Servidora pública criou há 4 anos o Parque da Leitura

Patrícia Constâncio
Patrícia Constâncio

 

Por Claus Jensen

Patrícia Constâncio coordena os projetos com base social na Fundação Cultural de Blumenau, em especial o Parque da Leitura. Foi ela que criou o projeto em 2013, com a primeira edição já em março, dois meses depois de Napoleão assumir o primeiro mandato como prefeito. O projeto teve o aval do presidente da fundação na época, o hoje vereador Sylvio Zimmermann Neto.

Desde lá, já existem os leitores cativos que acabam voltando, além dos novos que aparecem em cada edição. No projeto que acontece aos sábados das 9h às 17h no Parque Ramiro Ruediger, existe um espaço onde pessoas de várias faixas etárias se sentam para ler. Neste período são disponibilizados cerca de 2 mil livros de todos os gêneros.

Conversamos com Patrícia na tarde desta quinta-feira (16/02/17) nas instalações do portal OBlumenauense. Confira a entrevista desta mulher apaixonada por contaminar os outros no ato de ler.

OBlumenauense: Quando iniciou o projeto Parque da Leitura e o que inspirou sua criação?

Patrícia Constâncio: Sou servidora pública há 36 anos na prefeitura. Durante muito tempo trabalhei na coordenação de escolas e também no ProLer, um programa de leitura na cidade. Devido à essa proximidade e o ato de ler, sempre ofereci esse projeto para governos (municipal) anteriores. Eu observava que as pessoas iam no Ramiro para jogar bola, correr, pedalar, não fazer nada, ficar nos celulares e tablets, etc.Sempre acreditei que se as pessoas tivessem a mão um bom acervo de livros, a leitura também poderia ser uma prática nesse espaço.

O projeto já acontece na cidade há 4 anos e se inspirou na ideia do Parque Ramiro Ruediger ser um local onde as pessoas vão investir o tempo livre e de lazer no corpo. A intenção é que o público investisse na mente também. Por conta disso nós instalamos um ponto de leitura dentro do parque, para que as pessoas pudessem ter o corpo sarado e a mente ativa.

OBlumenauense: Quantas pessoas costumam frequentar?

Patrícia Constâncio: Uma média de 120 a 180 pessoas por dia frequentam o Parque da Leitura, que são desde famílias, grupos de jovens, crianças, até os filhos dos ambulantes que trabalham nas imediações do parque. Nós não emprestamos, a ideia é que as pessoas leiam no parque, para interagir com os outros leitores.

OBlumenauense: Qual é a faixa etária média desse público?

Patrícia Constâncio: A composição familiar é o que mais pesa no projeto. A maioria das pessoas vão enquanto unidade familiar, são poucos os que estão sozinhos. Ou são adultos, no caso pai e mãe, ou estão no ensino fundamental. Ainda queremos conquistar o público leitor que está no ensino médio ou superior.

Outro público que temos o desafio de trazer, são os skatistas, que estão sempre no Ramiro e pouco exploraram esse espaço. Já temos algumas estratégias traçadas, mas é um pouco mais difícil de seduzir para o ato de ler. Assinamos duas revistas de skate, que é uma armadilha para trazê-los [risos], e acreditamos que a longo e médio prazo, possamos conquistar esse grupo também.

 

 

OBlumenauense: Dos livros disponibilizados, quais são os preferidos pelos leitores?

Patrícia Constâncio: Entre os mais procurados, estão as antologias de contos, que são histórias curtas e as pessoas gostam de ler; livros que mexem com humor, histórias em quadrinhos, não só os gibis, mas os em formato de livros. Outro gênero muito procurado é a literatura de cordel, embora não seja uma tipologia própria do sul.

O acervo foi composto para esse projeto especificamente e todos os anos parte dele é renovado com a contribuição de apoiadores. São desde os gincaneiros, a Banda Municipal de Blumenau que arrecada livros, as próprias editoras, já que quem leu, acaba adquirindo-o para seu acervo pessoal.

Em cada edição lançamos temas. Por exemplo, se naquele final de semana tiver um passeio ciclístico, nós levamos livros para os ciclistas, como revistas ou poesias sobre bicicletas. Sempre nos informamos antes para saber qual o público que estará no parque em função de algum evento que terá no local.

 

Parque da Leitura na Escola Básica Municipal Quintino Bocaiúva

 

OBlumenauense: Em função desse trabalho, vocês já perceberam algum resultado em termos de mudança no comportamento sobre a leitura?

Patrícia Constâncio: Nós temos uma fanpage do Parque da Leitura com quase 1.600 curtidas, onde as pessoas se manifestam, inclusive perguntando sobre quando terá nova edição. Algumas crianças começaram conosco bebês e agora já tem de 3 a 4 anos. Elas vão sozinhas pegar os livros que querem, além de perguntarem para as mães sobre a programação do Parque.

Tem também as escolas que agendam o sábado para fazer uma integração com a família ou turmas de crianças. Temos os resultados tanto em grupos familiares quanto institucional, do quanto o projeto está legitimado na cidade. Acreditamos que outros novos parques da cidade precisarão ter pontos de leitura para que esses leitores possam ser atendidos.

Em 2014, Blumenau recebeu uma premiação internacional como Cidade Sustentável em qualidade de vida por oferecer um espaço de leitura num parque de convivência. Esse selo é permanente, por isso tenho que mandar todos os anos dados jornalísticos e numéricos para a cidade mantê-lo. Se Blumenau não manter o projeto, perde o selo, estimulando a organização pública a preservá-lo.

OBlumenauense: Então a ideia seria ampliar para outros parques, como o da Itoupavas que está sendo construído?

Patrícia Constâncio: Sim, já estamos pensando em uma estrutura diferenciada para que não fique a mesma proposta (do Ramiro), com a ideia de ponto de leitura, que possa ser disponibilizada lá. Não temos outros parques além desses dois, sem contar o São Francisco que não comporta esse tipo de estrutura, afinal as pessoas vão para “ler o ambiente”.

Além disso, Blumenau tem muitas praças e os terminais de ônibus. São lugares que poderíamos criar projetos diferenciados, com nova cara e outra dinâmica para abordar o público e estimular a leitura. Os terminais tem um volume de pessoas muito menor no final de semana do que os outros dias. É um ambiente onde as pessoas passam com propósitos diferentes e tem um outro tempo destinado ou não para a leitura. Blumenau tem muitos pontos de formação de leitor que poderiam ser explorados e potencializados. Para isso precisamos estudar o projeto, buscar parcerias, pensar em profissionais que façam essa mediação, porque só o livro em si não faz o papel na formação de leitor, precisa de um mediador.

OBlumenauense: Quantas pessoas estão envolvidas na realização do Parque da Leitura?

Patrícia Constâncio: Para que o projeto aconteça, ele envolve várias secretarias. Precisamos de uma estrutura de limpeza porque vai um trailer que desloca o acervo para o parque, também da central de veículos que disponibiliza um motorista habilitado para esse tipo de veículo com dois eixos de carro. Eles tem uma escala regular conosco para levar e trazer o trailer em cada edição.

Além disso, nós somos em duas contadoras de histórias, que planejamos as ações, tanto na captação e organização do acervo de livros que será trabalhada naquela edição, quanto no atendimento do público durante todo sábado. É uma equipe boa e todos gostam do projeto. Acreditamos que ele acontece, porque tem pessoas nos bastidores que ajudam para que ele tenha qualidade.

OBlumenauense: Quando será a próxima edição do evento?

Patrícia Constâncio: A primeira edição de 2017 será no dia 11 de março. As pessoas que quiserem ter mais informações podem acessar o site da Fundação Cultural ou na Fanpage do Parque da Leitura, onde estamos sempre divulgando as novas edições, tanto quanto fotos das que aconteceram.