A colheita da cebola começou oficialmente em Santa Catarina nesta quarta-feira (8/10/25), com o Dia de Campo promovido pela Estação Experimental da Epagri em Ituporanga (EEITU). O evento reuniu mais de 500 pessoas entre produtores, técnicos, estudantes e lideranças do setor, e marcou o início da safra 2025/26 — uma das mais esperadas dos últimos anos.
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O otimismo tem motivo: o estado deve colher 594 mil toneladas, segundo o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), um aumento de 6,9% sobre o ciclo anterior. Esse avanço se deve à expansão de 1,2% na área plantada e à melhora na produtividade média, que passou de 28,8 para 30,4 toneladas por hectare.

| Foto: EPAGRI/SC
A analista da Epagri/Cepa Bruna Parente Porto explica que o clima tem sido um aliado e que a expectativa continua positiva. “A boa luminosidade e a menor umidade ajudam na cura dos bulbos e garantem cebolas de melhor qualidade. Se o tempo seguir assim, teremos uma ótima safra”, destaca.
Além disso, as condições fitossanitárias estão favoráveis: mais de 90% das áreas estão saudáveis, e apenas 10% registraram intercorrências pontuais, como míldio (Peronospora destructor), favorecido pela umidade elevada.
Da lavoura à panela: um ingrediente que faz parte da rotina
Antes de falar de números e mercado, vale lembrar: a cebola é um dos pilares da cozinha brasileira. Está na base do arroz, feijão, farofa, carne de panela, refogado, molho e até da maionese de domingo. É o tipo de alimento que quase todo mundo tem em casa — e sente falta quando não tem.
Por isso, uma boa safra vai muito além das estatísticas: ela garante o tempero do dia a dia e afeta diretamente o bolso do consumidor. Em um ano de boa produtividade, o preço tende a cair, o que alivia o custo dos alimentos preparados dentro e fora de casa.
Produção em alta, mas com atenção ao mercado
Com uma safra mais farta, os produtores precisam ficar atentos à rentabilidade. O aumento da oferta tende a pressionar os preços. Em junho de 2025, a saca de 20 kg foi vendida a R$ 30,36, valor inferior ao custo médio de produção, estimado em R$ 1,67/kg.
No mercado atacadista, a queda foi ainda mais acentuada: de R$ 57,02 em julho para R$ 42,56 em agosto, uma retração de 25,4% em apenas um mês. A tendência, segundo analistas da Epagri/Cepa, é de manutenção desse movimento à medida que a colheita avança em outras regiões do país.
“Em outubro começa a colheita das variedades precoces, como a Poranga, desenvolvida pela própria Epagri. Esse é o momento de redobrar o cuidado com o manejo e o pós-colheita para evitar perdas e manter a qualidade”, reforça Bruna Porto.

Importações em queda e mercado interno fortalecido
Com a oferta nacional em alta, o Brasil reduziu significativamente as importações. No primeiro semestre de 2025, o país comprou 133,9 mil toneladas, o que representa 53,6% a menos do que no mesmo período de 2024.
Em julho, o volume importado foi de 2.476 toneladas, e em agosto, apenas 137 toneladas — o menor registro mensal desde janeiro. A Argentina continua como principal fornecedora, com 81% do total, seguida pela Espanha (19%).
Em Santa Catarina, as últimas compras externas ocorreram em julho — 56 toneladas argentinas, equivalentes a US$ 11,2 mil. Em agosto, não houve novas importações, reflexo da boa safra interna. Mesmo com a redução nos volumes, o preço médio da cebola importada subiu 16,6%, chegando a US$ 0,21/kg (FOB).

Tecnologia, pesquisa e futuro da cebolicultura catarinense
Durante o Dia de Campo, produtores e técnicos puderam conhecer novas tecnologias de cultivo, como manejo de doenças, controle da mosca-da-raiz, experimentos sobre adubação e produção orgânica, além de novos sistemas de irrigação e implementos agrícolas.
O presidente da Epagri, Dirceu Leite, destacou o papel da pesquisa e da inovação para manter o estado na liderança nacional.
“A Epagri tem orgulho de apoiar os produtores catarinenses com tecnologia, assistência técnica e inovação, garantindo uma safra competitiva e fortalecendo o papel de Santa Catarina como maior produtor nacional de cebola”, afirmou.
A região de Ituporanga é o coração da produção catarinense: das 556 mil toneladas colhidas em 2024, cerca de 440 mil vieram do Alto Vale. Segundo o gerente da EEITU, Gerson Wamser, o evento será mantido nos próximos anos para aproximar a pesquisa científica da cadeia produtiva.
“Queremos que o produtor participe das descobertas e sinta o impacto direto da pesquisa no campo”, explica Wamser.
Atualmente, a Epagri já lançou dez cultivares de polinização aberta e trabalha com dois híbridos em avaliação, desenvolvidos para atender às demandas de produtores, comerciantes e consumidores.
Um tempero que move a economia
A cebola não é apenas um ingrediente essencial na cozinha, mas também uma força econômica para o estado. Santa Catarina é o maior produtor do país e sustenta milhares de famílias no campo.
Entre o sabor do refogado e os gráficos da safra, o que se colhe em Ituporanga é mais do que cebola — é o resultado da união entre tradição, pesquisa e trabalho. E enquanto o cheiro de cebola dourando invade as cozinhas, o estado celebra mais uma safra que promete temperar a economia e o dia a dia dos brasileiros.
Com informações de Cristiele Deckert, da Fapesc Epagri/Cepa
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