Operação Nuremberg revela grupo neonazista com rituais, hierarquia e plano de expansão nacional

Força-tarefa coordenada pelo Ministério Público de Santa Catarina cumpriu 21 mandados em quatro estados; materiais de apologia ao nazismo, armas e objetos usados em rituais foram apreendidos.

Foto: GAECO/SC

Uma investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) revelou a existência de um dos grupos neonazistas mais organizados e violentos em atividade no país. O caso começou a ser apurado pela 40ª Promotoria de Justiça da Capital e, posteriormente, foi encaminhado à 39ª Promotoria de Justiça, responsável pelos casos da Vara Estadual de Organizações Criminosas.

::: Siga OBlumenauense no WhatsApp ➡️ Clique aqui!

As investigações identificaram uma rede articulada e hierarquizada, com reuniões presenciais, rituais de “batismo” e cobrança de mensalidades entre os membros. A partir dessas descobertas, o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO), por meio do CyberGAECO, deflagrou nesta sexta-feira (31/10/25) a Operação Nuremberg, em apoio ao procedimento investigatório.

Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Vara Regional de Garantias de Criciúma e pela Vara Estadual das Organizações Criminosas.

 

Foto: GAECO/SC

Ação em quatro estados

A operação foi realizada de forma simultânea em Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Sergipe, com cumprimento das ordens nas cidades de São Paulo (SP), Campinas (SP), Taboão da Serra (SP), Osasco (SP), São José dos Pinhais (PR), Curitiba (PR), Araucária (PR), Cocal do Sul (SC), Jaraguá do Sul (SC) e Aracaju (SE).

Durante as diligências, foram apreendidos materiais de apologia ao nazismo, armas brancas, facas e um soco inglês. Todos os objetos foram recolhidos para análise pericial.

Estrutura e funcionamento do grupo

As apurações indicam que os integrantes se autodenominavam skinheads neonazistas e adotavam como símbolo o “Sol Negro”, emblema associado ao ocultismo nazista e à supremacia ariana, com a figura de um fuzil AK-47 no centro. De acordo com os próprios membros, o símbolo representa a supremacia branca e a exaltação da violência, evidenciando a disposição para o uso da força como instrumento ideológico.

O grupo mantinha encontros presenciais regulares para discutir a disseminação da ideologia, planejar ações e promover recrutamento de novos membros. Em alguns casos, também eram organizados confrontos com grupos ideologicamente opostos.

As investigações revelaram ainda uma estrutura hierarquizada, com fichas de ingresso, camisetas exclusivas e mensalidades obrigatórias. As contribuições financeiras eram usadas para custear despesas internas, produzir materiais de propaganda e manter as atividades da organização.

Outro ponto constatado foi a realização de cerimônias de “batismo”, rituais de iniciação que marcavam a entrada de novos integrantes e reforçavam os laços de fidelidade ao grupo.

Foto: GAECO/SC

Atuação virtual e perfis dos investigados

A investigação também mostrou que parte dos integrantes atuava em ambientes virtuais, participando da produção e difusão de conteúdos de ódio, antissemitismo e apologia ao nazismo. Muitos deles utilizavam perfis falsos e fóruns especializados para espalhar mensagens supremacistas e incitar a violência.

Entre os investigados há pessoas com diferentes formações e ocupações, o que, segundo o MPSC, demonstra a capacidade de disseminação da ideologia extremista em diversos segmentos da sociedade.
A atuação articulada e tecnicamente estruturada evidencia o alto grau de organização e planejamento do grupo.

Cooperação entre forças de segurança

A Operação Nuremberg contou com o apoio do Ministério Público de São Paulo (CYBERGAECO), do Ministério Público de Sergipe (GAECO/SE), do Ministério Público do Paraná (GAECO/PR) e da Polícia Civil de São Paulo (PCSP).
Segundo o MPSC, essa colaboração reforça a importância da cooperação interagências e do intercâmbio de informações no combate ao extremismo e ao crime organizado.

Análise das provas e próximos passos

Os materiais apreendidos foram encaminhados à Polícia Científica, que realizará exames periciais. As evidências serão analisadas pelo CyberGAECO para identificar outros envolvidos e aprofundar a apuração da extensão da rede criminosa.

As investigações tramitam sob sigilo, e novas informações poderão ser divulgadas assim que houver publicidade dos autos.

Por que “Nuremberg”

O nome da operação faz referência aos Julgamentos de Nuremberg, realizados após a Segunda Guerra Mundial, que se tornaram um marco na responsabilização de indivíduos por crimes de ódio, extremismo e intolerância.

De forma simbólica, o título representa o propósito da ação: enfrentar grupos extremistas que propagam ideologias violentas e atentam contra o Estado Democrático de Direito.

Compromisso com a segurança pública

Em nota, o Ministério Público de Santa Catarina reafirmou o compromisso com a defesa da sociedade e declarou que discursos de ódio, antissemitismo e incitação à violência não serão tolerados.

O órgão destacou que a Operação Nuremberg é um passo importante para levar os responsáveis à Justiça e proteger a sociedade de ideologias que ameacem a harmonia social.

O GAECO é uma força-tarefa composta, em Santa Catarina, por integrantes do Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Penal, Receita Estadual e Corpo de Bombeiros Militar, criada para identificar, prevenir e reprimir organizações criminosas.

Já o CyberGAECO é uma unidade especializada inserida em sua estrutura, voltada à prevenção e repressão de crimes cometidos em ambientes virtuais, especialmente os relacionados a extremismo e ódio online.


▶️🛜Siga nossas redes sociais: Youtube | Instagram | X (antigo Twitter) | Facebook | Threads | Bluesky


CVV Blumenau – 40 anos de escuta e acolhimento | Dedicação que salva vidas