OBlumenauense entrevista Edgar Guimarães, campeão mundial de Jiu-Jitsu

Foto: divulgação
Foto: João Paulo Taumaturgo
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Entrevista e fotos: João Paulo Taumaturgo | Texto final: Claus Jensen

Campeão mundial de Jiu Jitsu recentemente em São Paulo, Edgar Guimarães está se preparando para viajar aos Estados Unidos, onde participará de várias competições que podem trazer mais medalhas ao Brasil. E sabem que cidade ele representa? Isso mesmo, Blumenau. Mas é blumenauense de coração, porque apesar de viver há 15 anos aqui, na verdade nasceu há 32 anos em Imbituba.

O João Paulo Taumaturgo entrevistou ele no Hotel Oasis, e conheceu melhor as dificuldades e segredos dos atletas de jiu jitsu. Uma das curiosidades é que a maioria dos campeonatos não oferecem valor em dinheiro, só medalhas. E por fim, como chegar ao objetivo máximo? Confira!

Foto: divulgação
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OBlumenauense: Edgar Guimarães, como começou a sua história com o jiu jitsu?

Edgar Guimarães: Foi há cerca de 10 anos. Eu recebia muitos convites para praticar o jiu jitsu, mas não gostava muito, achava muito estranho. Na verdade um pouco de preconceito de minha parte. Mas depois que fiz a primeira aula, foi amor a primeira vista e eu não parei mais. Na época ainda falei para meu primeiro professor, que eu só treinaria jiu jitsu se fosse para competir. Tanto é que eu comecei a praticar em uma segunda-feira e no sábado já disputei meu primeiro campeonato, onde fiquei em segundo lugar.

OBlumenauense: Qual foi a sua primeira grande vitória?

Edgar Guimarães: São muitas e faz algum tempo. Mas foi uma seletiva para um mundial em 2006, que valia para uma campeonato estadual. Foi um momento importante, porque eu senti que eu poderia ir adiante, com mais treinamento e condicionamento físico. Na época era bem mais jovem e desde lá meu treinamento evoluiu bastante.

OBlumenauense: Como foi essa competição em São Paulo, tanto na preparação quanto o significado dela para você?

Edgar Guimarães: No ano passado eu já havia participado, mas fiquei em segundo lugar. Quando eu perdi essa luta eu pensei: vou voltar e vencer. Desde lá comecei a me preparar bastante e até comentei com meu mestre, que estava com uma sensação diferente, porque a questão da adrenalina acontece mesmo.

Mas quando eu cumprimentava meu adversário, me dava uma paz e tranquilidade que eu não havia sentido até então. Quando eu começava a lutar, era super tranquilo, enquanto antes, eu ficava preocupado com a estratégia que iria usar, quem era meu oponente, já que eu não tenho o costume de estudá-los. Eu tenho algumas estratégias que uso durante a luta, mas precisamos nos adaptar e até mudar se for o caso, para conseguir a vitória.

 

Foto: divulgação
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Foi interessante, porque no dia 23 eu lutei o Absoluto, onde eu venci 5 lutas. No dia seguinte estava muito mais tranquilo para minha categoria que era pesadíssima, para lutadores com peso acima de 100,5Kg. Nessa categoria o adversário pode ter 150Kg, 200Kg, ou até mais. Para vencer nessa categoria eu fiquei um pouco ansioso, porque venci o Absoluto, que é a mais importante para nós.

OBlumenauense: Como é essa categoria Absoluto?

Edgar Guimarães: Eles pegam todas as categorias de peso em uma única faixa, e colocam em confronto para ver quem é o melhor de todos nela. Depois cada atleta disputa separadamente a sua categoria. Quando venci o Absoluto, senti uma responsabilidade maior ainda em vencer àquela que eu pertenço.

A primeira luta foi impressionante. Só depois que eu a venci deu uma aliviada, criando confiança novamente. Quando cheguei à final, fiquei completamente solto e fiz lutas mais estratégicas, não me expondo muito, buscando pontuar, segurando um pouco o adversário e conseguindo a vitória.

OBlumenauense: Quantas lutas foram em dois dias?

Edgar Guimarães: Foram nove ao todo. É primeiro evento que eu disputo com uma quantidade tão grande de lutas, que normalmente em minha categoria não passam de três.

OBlumenauense: Quantos lutadores participaram da competição?

Edgar Guimarães: O evento tinha mais de 3,5 mil atletas do mundo todo, de várias faixas etárias.

OBlumenauense: Quando você parte para os EUA e quais os eventos que irá participar lá?

Edgar Guimarães: A intenção é viajar entre os dias 15 e 16 de setembro, onde participaremos de cinco competições. Estaremos na cidade de Dallas, participando do Dallas Open (com e sem quimono); depois iremos para o Panamericano (sem quimono). Na sequência vem um campeonato em Miami (com e sem quimono), que é um evento local mas nos dá um bom respaldo. Em seguida vamos para Seatle e por último em Long Beach na Califórnia (com e sem quimono) que é meu foco principal.

OBlumenauense: Como está sendo a preparação para essa competição?

Edgar Guimarães: Em relação ao treino e o condicionamento físico dentro do jiu jitsu, estamos bem tranquilos. Nós estamos fazendo uma força tarefa com várias pessoas envolvidas, na busca de mais patrocinadores. Já temos algumas pessoas que irão nos apoiar, inclusive até uma rifa. Então nessa e na próxima semana teremos coisas mais definidas. Nós precisamos aproximadamente de R$ 15 mil para disputar os cinco eventos.

OBlumenauense: Existe algum retorno financeiro em uma vitória?

Edgar Guimarães: Não, é só por vestir a camisa do seu país. Na questão do retorno financeiro, temos que aproveitar as oportunidades, como abrir uma academia ou algo assim. Mas a competição em si, não tem prêmio, é só a medalha. Na vida temos que estabelecer metas, lutar por elas e quando alcançamos, não paramos, buscamos novos objetivos.

OBlumenauense: A sua trajetória é de muitas conquistas. Qual você considera o maior desafio para o jiu jitsu para quem quiser ser campeão mundial como você?

Edgar Guimarães: São vários fatores, mas o principal é a falta de investimento, principalmente na nossa modalidade. Às vezes você não consegue disputar um evento dentro do próprio estado, porque faltam recursos para pagar inscrição, estadia, alimentação, etc … Qualquer evento tem um custo muito alto. Tem muitos atletas com potencial, mas não tem recursos para chegar lá. Eu dou graças a Deus, porque tem muitas pessoas envolvidas por trás me ajudando. É uma vitória de muita gente, eu só fui lá e lutei.

OBlumenauense: O jiu jitsu é uma modalidade olímpica?

Edgar Guimarães: É uma pergunta interessante, porque ano que vem teremos as olimpíadas no Brasil e o jiu jitsu que o mundo aprende é brazilian jiu jitsu. Não é nem uma modalidade de apresentação.

OBlumenauense: Se tivesse a chance de uma modalidade olímpica, teria mais apoio?

Edgar Guimarães: Eu acredito que sim, porque percebo que os atletas olímpicos, tem um respaldo maior e mais respeito. Além disso ficaria mais fácil para conseguir um apoio municipal, estadual e federal.

OBlumenauense: Você nunca pensou em praticar o MMA, em vez do jiu jitsu?

Edgar Guimarães: O MMA é diferente, porque eu preciso machucar os meus oponentes e também companheiros de treino, para que eu tenha êxito ou consiga a vitória. O jiu jitsu é completamente diferente. Por exemplo em algumas lutas eu já estava com o golpe encaixado, mas eu cuidava para não machucar os meus oponentes. Também teve situações onde fui advertido pela arbitragem porque dizia que se continuasse iria lesionar meu oponente e receber punição por isso. Então, tentei achar uma maneira de forçar um pouquinho mas que não causasse uma lesão grave.

O MMA machuca demais. Eu vejo que o ser humano não nasceu para ficar machucando o outro. Nascemos para viver bem e em paz. Graças a Deus com o jiu jitsu não preciso tirar sangue de uma pessoa, para que eu seja vitorioso. Para eu participar de um evento, só se recebesse uma proposta muito boa, mas não é o meu foco.

OBlumenauense: Alguma mensagem final?

Edgar Guimarães: Que as pessoas sonhem, pode até ser um sonho alto, mas que coloquem isso no papel como meta e corram atrás. Não adianta a gente esperar, porque com toda a certeza a gente consegue. Nas minhas metas, a primeira era ser campeão mundial de jiu jitsu esse ano. E eu consegui. Mesmo a gente estabelecendo algumas metas, irão surgir pedras no meio do caminho. Eu por exemplo, estou me recuperando de uma lesão no joelho direito. Então é uma questão de aproveitar essa “pedra” ou ficar reclamando. Sonhe, planeje, vai para cima que você consegue.

Foto: João Paulo Taumaturgo
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