Por Kamile Bernardes
Com idas e vindas de uma garoa insistente, o segundo desfile da 40ª Oktoberfest Blumenau ganhou vida nesse sábado, (11/10/25). Turistas ansiosos e blumenauenses orgulhosos ocuparam as calçadas da Rua 15 de Novembro, regados à música, chope gelado e muita celebração da cultura germânica. A reportagem de OBlumenauense esteve nos bastidores para acompanhar o trabalho silencioso e a expectativa que antecede o espetáculo — da Comissão Organizadora aos grupos folclóricos e à realeza.
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Antes de a rua virar palco
O presidente da Associação dos Grupos Folclóricos Germânicos do Médio Vale do Itajaí (AFG), Arnaldo José Nazário, conta que de agosto em diante, o trabalho dos integrantes é voltado praticamente apenas para a Oktoberfest — com organização de logística e ensaios rigorosos. Cada passo, cada coreografia e cada figurino passam por uma coordenação que garante que, quando chegam à rua, tudo flua como um espetáculo imperdível.
“Nós em agosto começamos a organizar todos os detalhes do desfile (…) Serão seis grupos por sábado e um quarta-feira e na Vila Germânica tem 94 apresentações. Então, a gente tem que preparar tudo. Todo mundo que dança ou desfila, há um registro (…) A gente faz todo esse controle, não é só ensaiar, tem toda uma logística que existe por trás”, explica Arnaldo.
Para ele, o maior desafio do processo é conseguir articular as várias realidades existentes dentro da associação. “O nosso foco é o grupo folclórico. Então, o maior desafio é conciliar todas as decisões para que a gente pratique o associativismo na sua essência: a divisão. (…) O desafio é esse. É como pegar todas essas 18 realidades de cada grupo, e cada um com seus 30, 40 — nós temos grupo de 90 — integrantes, além de diferentes realidades, de crianças, de terceira idade. Então, juntar todas essas pecinhas é o maior desafio nosso”, afirma o presidente da AFG.
Apesar do quebra-cabeças por trás da organização, nos bastidores dos desfiles também nascem muitas histórias — e algumas delas se transformam até em famílias: “Muitos casamentos aconteceram, o meu, por exemplo. Conheci minha esposa através do grupo folclórico (…) Têm muitas histórias, mas a mais tradicional desses 40 anos de Oktoberfest são vários casamentos e filhos”, revela Arnaldo. Ele conta ainda sobre pessoas que superam a timidez ou descobrem novas facetas de si mesmas ao participar.
Por trás da folia
Para que seja possível entregar os desfiles, trazendo para a rua o espírito da Oktoberfest Blumenau, há um trabalho que ocorre durante o ano inteiro. Vania Gayo, gerente de planejamento na Secretaria de Turismo e integrante da Comissão Organizadora dos Desfiles, conta como funciona.

“A comissão é formada por um grupo de pessoas, funcionários da Vila Germânica e o Secretário de Turismo, que são indicados pelo prefeito todos os anos. Somos, neste ano, 11 pessoas na comissão e nos encontramos todas as terças-feiras à tarde, durante todo o ano, e lá nós definimos tudo”, diz.
Apesar de o planejamento ser feito apenas pela Comissão, para que o desfile tome forma com organização e segurança, são necessárias mais mãos. “Hoje, aqui, temos um grupo de apoio formado por voluntários. São, em média, 60 pessoas que acompanham os grupos. Entre elas, 10 ficam em pontos fixos ao longo de 10 locais específicos da Rua XV, e os outros 50, cada um acompanha de três a quatro grupos, para evitar falhas”, explica Vania.
E o trabalho da organização não acaba quando o desfile começa. Vania comenta como é o clima dos bastidores: “Muita coisa acontece que a gente tem que resolver. Por exemplo, tem crianças que desfilam, há toda uma logística com hidratação. Tem pessoas idosas também. Então temos todo esse cuidado com a pessoa, porque o desfile é formado por pessoas, principalmente. E esse cuidado a gente tem que ter sempre, antes, durante e depois do desfile”.

Entre passos e memórias
Além de presidente da AFG, Arnaldo também dança e desfila através de grupos folclóricos desde 1988. Ele faz parte do “Blumenauer Volkstanzgruppe”, do Centro Cultural 25 de julho — o mais antigo grupo folclórico germânico em atividade da cidade, fundado em 1984. Para ele, dançar e desfilar é mais que uma tradição: é estar presente nos bastidores da própria história da cidade.
“As coisas que eu mais me lembro dos primeiros desfiles era a questão de ser domingo de manhã. Então, era muito trânsito. Era uma bagunça generalizada. A gente não entendia como esse caos se organizava naquela época”, brinca Arnaldo.
Quando questionado sobre o que faz ele continuar desfilando depois de tantos anos, Arnaldo responde com facilidade: legado. “Foi a forma que eu achei de contribuir para a cultura. Já fui Conselheiro do Municipal de Cultura, hoje estou na presidência da associação e amo a cultura como um todo. Eu continuar há tanto tempo e não desistir, é um legado (…) É a forma que achamos de deixar legado para a juventude. (…) O meu sentimento de pertencimento como jovem era esse. Então quando eu tenho filhos adolescentes hoje e vejo as crianças fazendo tantos amigos que continuam dançando, isso é legado”, finaliza.
Edwind Schil, também folclorista do Blumenauer Volkstanzgruppe, desfila desde 2001 e revela um dos momentos mais marcantes dessa trajetória: “Um desfile que marcou foi quando nós chegamos no palanque oficial no Banco do Brasil e caiu um toró d’água que até no final do desfile nós estávamos encharcados. E quando o desfile começou não se pode mais parar”.

Orgulho e emoção antes de entrar na rua
O trio Gabrielle Kratz (rainha), Giane Prochnow (1ª princesa) e Gabriela Schoeler (2ª princesa) — também se preparava para o desfile e contou como é o sentimento de vir para a rua, pela segunda vez, representando a festa como realeza oficial.
“O sentimento é inexplicável. A gente desfilou também em Munique, então o sentimento é de gratidão por tudo que a gente passou durante o ano inteiro. E agora, estar desfilando pela nossa festa, na 40ª edição, é um sentimento muito especial. A gente esperou o ano inteiro pra isso”, afirmou a 2ª princesa.
A princesa Giane falou sobre a reciprocidade do público: “A gente está aqui para recebê-los de braços abertos e graças a Deus, o carinho que a gente consegue demonstrar está sendo sempre retribuído”.
Por fim, a rainha Gabrielle Kratz, contou sobre a emoção de ver a festa acontecendo. “A gente trabalhou arduamente durante todo o ano para divulgar a festa e agora ver ela sendo realizada, eu acho que é realmente o momento de comemorar. A gente está muito feliz com o que está acontecendo, com as pessoas que estão vindo, os turistas que vêm dando feedback e com as novidades também”.

O espetáculo visto da calçada
Quando o desfile finalmente chega ao público, a tensão e o trabalho nos bastidores se transformam em espetáculo. Marcelo Heinzen, 43, e Elaine Passold, 40, casados há quase 18 anos, são grandes fãs dos desfiles da Oktoberfest e espectadores assíduos: “A gente vem mais no desfile do que na própria festa”, afirma Marcelo.
Há anos, eles sentem a energia que atravessa cada canto da rua XV, sem imaginar o esforço que faz tudo acontecer. “A gente curte mais esse espaço da XV porque antigamente a festa começava aqui, na verdade, né? Tinha meio que um trio elétrico aqui na XV, era zoeira. Então temos essa tradição de antigamente”, relembra Elaine.
Ambos confessam gostar mais dos desfiles do que da própria festa, no Parque Vila Germânica, e Marcelo explica o motivo. “Eu tenho a impressão que o clima, o espírito da Oktoberfest está mais aqui do que lá. Claro, lá é importante, é legal. Não tenho nada contra a festa em si, mas o desfile tem esse senso de comunidade. Enquanto lá está muito mais atrativo e tal, aqui está mais participativo.”
O que faz o casal assistir os desfiles todos os anos é a emoção. “Sempre tem alguma novidade. O desfile é legal, é emocionante. A gente vê as gerações se encontrando, as pessoas mais velhas, as pessoas com crianças. É uma coisa muito familiar que se torna emocionante”, finaliza Marcelo.





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