Neste Halloween, resolvemos brincar com o imaginário e escrever um conto totalmente fictício, ambientado em Blumenau. Uma cidade de ruas silenciosas, morros envoltos em neblina e histórias que ganham outro tom quando a noite cai. Nada aqui é real — ou, pelo menos, é o que esperamos.
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Dizem que nas noites de Halloween, quando o vento desce do vale e a neblina cobre o Morro do Aipim, o antigo restaurante volta à vida. As janelas se abrem sozinhas, e o cheiro de chucrute azedo se mistura ao de cerveja que nunca esvaziou. Lá dentro, talheres batem, copos tilintam e vozes discutem o cardápio como se o tempo tivesse parado na última rodada.
Desde o incêndio de 2014, que deixou parte da estrutura em ruínas e o lugar abandonado por quase uma década, as histórias se multiplicaram. Uns falam em luzes piscando entre os destroços; outros juram ter ouvido brindes e gargalhadas vindas do salão vazio. Quando o espaço foi revitalizado e reaberto em 2024, muita coisa mudou — menos o hábito de uma cadeira ranger sozinha por volta das 18h, suposto horário em que o fogo começou.
Quem sobe o morro nessas horas jura ouvir passos atrás de si — leves, compassados e sempre dois segundos atrasados. É o tipo de companhia que não se vê, mas sente. Alguns garantem que é o garçom que nunca conseguiu entregar o pedido. Mais tarde, à meia-noite, outros acham que essa sensação é só o vento curioso, tentando entender por que alguém sairia de casa nesse horário.
De vez em quando, uma figura aparece na neblina. Carrega um caderno, observa as sombras e murmura coisas sobre evolução e sobrevivência. Ninguém sabe se é um espírito, um estudioso perdido no tempo ou apenas alguém que não superou o fascínio por sapos e formigas. Mas uma coisa é certa: ele volta todos os anos, pontual como os sinos da Catedral.
Depois da meia-noite, o visitante desce em direção ao Cemitério dos Gatos, onde o silêncio é quebrado por miados que não parecem vir deste mundo. As cruzes pequenas e os nomes apagados dão ao lugar uma aura melancólica, mas é nas noites de Halloween que algo muda. Os gatos voltam. Ou pelo menos o som deles.
Reza a lenda que ali repousam não apenas felinos, mas também os espíritos curiosos de quem fez muitas perguntas em vida. Voltaram com bigodes e garras, condenados a perseguir o mistério da existência entre as sombras do mato e as luzes trêmulas da cidade.
Quando o relógio marca 3h33, as luzes piscam no centro e os sinos tocam sozinhos. Uma brisa fria percorre a Rua das Palmeiras, e quem passa jura ver olhos brilhando entre os troncos. Há quem diga que é reflexo das lanternas. Outros garantem que é o olhar de quem nunca deixou Blumenau — nem vivo, nem morto.
A partir desse horário, estranhos ruídos ecoam pelo morro. Um tilintar de copos, risadas curtas e o som de alguém escrevendo. É o fantasma das anotações — aquele que nunca terminou seu relatório sobre o comportamento humano, especialmente nas segundas-feiras chuvosas.
Algumas pessoas juram ter visto essa figura parada no ponto de ônibus, observando o movimento e anotando tudo num caderninho invisível. Outras afirmam que ele já foi visto no Museu, balançando a cabeça em desapontamento. Ninguém sabe se é uma alma estudiosa ou só alguém que cansou de esperar melhorias.
O curioso é que ele nunca faz mal a ninguém. Apenas observa. De longe, anota, compara, suspira. Como se ainda tentasse entender por que as pessoas insistem em repetir os mesmos erros — tanto em vida quanto depois dela. E se nesta noite você ouvir passos atrás de si, não corra. Pode ser o vento. Pode ser um gato. Ou pode ser alguém curioso demais para deixar a cidade em paz. Nesse caso, apenas diga boa noite e siga seu caminho. Fantasmas educados respeitam quem mantém a calma — e não tira fotos com flash.
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