Médica em Blumenau alerta para sequelas de pacientes considerados curados da Covid-19

 

 

 

 

Mesmo após a recuperação da Covid-19, para algumas pessoas o diagnóstico de cura não quer dizer que a doença ficou para trás. Isso porque alguns pacientes podem apresentar sequelas do Coronavírus em outros órgãos, além dos pulmões, como sistema vascular, coração, musculatura esquelética e articulações, conforme aponta a médica Caroline Uber Ghisi, pneumologista do Hospital Dia do Pulmão, de Blumenau.

“Estudos e pesquisas realizadas nos últimos meses mostram que essas sequelas podem durar por semanas a meses, portanto, ainda não é possível dizer se elas são temporárias ou permanentes. Outro fator importante é que esses efeitos da doença, geralmente, aparecem nos pacientes que tiveram casos moderados a graves da Covid-19”, diz.

A pneumologista também alerta para a necessidade de acompanhamento do que ela chama de “síndrome pós Covid-19”, ou seja, quando a doença pode deixar sintomas mesmo após os dias de isolamento obrigatório. Um exemplo disso é a pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA) que avaliou 143 pacientes na Itália e, destes, apenas 12,6% foram internados na UTI, e 87,4% afirmaram que tiveram algum sintoma da doença cerca de dois meses após a cura.

“O Coronavírus atua por meio de uma inflamação generalizada no organismo, portanto, além dos pulmões, ele pode afetar outros órgãos, como a musculatura esquelética, o músculo cardíaco e os vasos sanguíneos. Quando os pulmões estão inflamados, o paciente apresenta tosse e sensação de falta de ar, porque a inflamação impede que o oxigênio atravesse a parede dos pulmões e chegue à corrente sanguínea, para ser então distribuído ao organismo. A inflamação da musculatura esquelética pode provocar dor muscular e fadiga. Por sua vez, a inflamação do tecido cardíaco gera um quadro que denominamos miocardite pós viral, onde o paciente sente falta de ar aos esforços. Por fim, caso o sistema vascular sofra com a inflamação, o risco de tromboses torna-se maior. O problema é que, mesmo depois da alta hospitalar, algumas pessoas podem permanecer com inflamação vigente e diversos dos sintomas citados anteriormente. Inclusive alguns pacientes caracterizados como casos leves inicialmente também podem evoluir com estes sintomas, e todos eles têm tratamento”, destaca.

A médica revela que a inflamação não é algo que desaparece de um dia para o outro, a melhora é lenta e gradual, muitas vezes. “Para entender melhor a lógica do processo de desinflamação, gosto de fazer um comparativo com a pele, um órgão fácil de visualizar. Imaginemos aquelas vezes em que ocorreu um pequeno acidente e fez-se uma ferida na pele. Quando o tecido está inflamado, ele não volta ao normal em pouco tempo, pode ficar dias se recuperando, até que a pele volte ao seu padrão normal, e mesmo assim, uma pequena cicatriz é formada no local. A inflamação em órgãos internos ocorre de forma semelhante. Os pulmões se desinflamam de forma muito lenta, em alguns pacientes em fase pós-covid este processo pode durar até três meses. E isso vale também para os outros órgãos citados, como a musculatura esquelética e o músculo cardíaco. Porém, podemos acelerar este processo de melhora com medicações adequadas, recuperando a respiração, a disposição e a qualidade de vida do paciente em um período muito mais curto. Evitando, inclusive, a tão temida formação de cicatrizes – fibroses – nos pulmões. Assim, caso um paciente continue apresentando tosse e falta de ar após o término do isolamento da Covid-19, é essencial que ele procure um médico pneumologista”, aponta Dra. Caroline.

Problemas de coagulação

A inflamação dos vasos sanguíneos em decorrência da Covid-19 provoca a hipercoagulabilidade, condição onde existe o risco muito elevado de formação de coágulos nos vasos, também conhecidos como trombos. “Eles se formam e impedem que a circulação do sangue ocorra de forma adequada. Se o paciente desenvolve um trombo, ele pode migrar pela circulação e parar em outros locais, como na circulação pulmonar e cerebral. Quando ele chega até a circulação pulmonar, o sangue que passa pelos pulmões não consegue ser oxigenado, assim, surgem sintomas como muito cansaço, falta de ar para pequenos esforços e dor no peito. Este é o quadro clínico que chamamos de TEP, o tromboembolismo pulmonar e que, caso não tratado, pode levar a óbito. Esta condição clínica sempre merece atenção e cuidado médico”, comenta a médica.

Quando o trombo, por sua vez, migra para vasos cerebrais, podemos ter um quadro de AVC, o acidente vascular cerebral, popularmente chamado de “derrame cerebral”. “Neste cenário, a circulação vai deixar de passar de forma adequada em alguma parte específica do cérebro, que pode ser responsável por alguma função importante no organismo. Por exemplo, existe uma região cerebral responsável por interpretar a visão. Se algum trombo migrar até esta parte, o paciente pode perder a capacidade de enxergar. Além disso, dependendo da área acometida, pode haver perda de força em braços e pernas, dor de cabeça intensa, ou até mesmo paralisia facial. Por isso é tão importante que pacientes que sentem sintomas mesmo após o término da Covid-19 procurem um médico pneumologista”, conclui a Dra. Caroline Uber Ghisi.