Fraturas são os acidentes que mais afastam trabalhadores em Santa Catarina

Foto: Julio Cavalheiro
Foto: Julio Cavalheiro

 

Das 20 principais causas de afastamento por acidente ou adoecimento no trabalho em Santa Catarina, oito são por diversos tipos de fraturas. Em 2017, esses acidentes obrigaram 6.391 trabalhadores a se ausentarem das atividades laborais por mais de 15 dias. O número corresponde a 38,35% de todos os casos registrados no ano passado.

Os dados foram repassados ao Ministério do Trabalho pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) com base nos benefícios concedidos no estado. Os números ainda são preliminares, mas servem para chamar a atenção à prevenção de acidentes e adoecimentos que vitimam trabalhadores diariamente. Em todo o ano de 2017, eles afastaram 16.661 trabalhadores em Santa Catarina, uma média de pelo menos 45 casos por dia.

 

20 principais causas de afastamento por acidentes e adoecimentos no trabalho em 2017* SC
Fratura ao nível do punho e da mão 1.840
Lesões do ombro 1.381
Dorsalgia 1.285
Fratura da perna, incluindo tornozelo 1.172
Fratura do pé (exceto do tornozelo) 1.044
Fratura do antebraço 984
Fratura do ombro e do braço 704
Ferimento do punho e da mão 487
Amputação traumática ao nível do punho e da mão 474
Luxação, entorse e distensão das articulações e dos ligamentos ao nível do tornozelo e do pé 424
Luxação, entorse e distensão das articulações e dos ligamentos do joelho 343
Mononeuropatias dos membros superiores 326
Sinovite e tenossinovite 275
Luxação, entorse e distensão das articulações e dos ligamentos da cintura escapular 223
Fratura do fêmur 217
Fratura da coluna lombar e da pelve 215
Fratura de costela(s), esterno e coluna torácica 215
Outras entesopatias 200
Transtornos internos dos joelhos 197
Traumatismo de músculo e tendão ao nível do punho e da mão 183
Total de benefícios concedidos por acidentes e adoecimentos no trabalho 16.661

Fonte: INSS

* Os números referem-se aos afastamentos com mais de 15 dias. Os dados são preliminares.

 

Para fazer um alerta sobre a seriedade do tema, o Ministério do Trabalho realiza até novembro a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Canpat). O ministro do Trabalho, Helton Yomura, explica que o objetivo é conscientizar empregadores, trabalhadores e toda a sociedade sobre a necessidade de observar as normas de segurança e saúde no ambiente de trabalho.

“Precisamos olhar para esse tema com a importância que ele merece. Ter ambientes de trabalho seguros e saudáveis é importante tanto para o trabalhador quanto para o empregador, com benefícios que alcançam todos os brasileiros, economicamente ativos ou não”, destaca.

No Brasil, em 2017, foram concedidos 196.754 benefícios a trabalhadores afastados devido a acidentes ou adoecimentos laborais. A média foi de 539 afastamentos por dia. As quatro principais causas foram as fraturas, a quinta, dorsalgia.

 

20 principais causas de afastamento por acidentes e adoecimentos no trabalho em 2017* Brasil
Fratura ao nível do punho e da mão 22.668
Fratura da perna, incluindo tornozelo 16.911
Fratura do pé (exceto do tornozelo) 12.873
Fratura do antebraço 12.327
Dorsalgia 12.073
Lesões do ombro 10.888
Fratura do ombro e do braço 8.318
Luxação, entorse e distensão das articulações e dos ligamentos ao nível do tornozelo e do pé 5.289
Ferimento do punho e da mão 4.985
Amputação traumática ao nível do punho e da mão 4.682
Sinovite e tenossinovite 4.521
Luxação, entorse e distensão das articulações e dos ligamentos do joelho 3.888
Mononeuropatias dos membros superiores 3.853
Outros transtornos de discos intervertebrais 3.221
Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação 3.170
Fratura do fêmur 2.964
Luxação, entorse e distensão das articulações e dos ligamentos da cintura escapular 2.776
Fratura da coluna lombar e da pelve 2.620
Transtornos internos dos joelhos 2.365
Outros transtornos ansiosos 2.310
Total de benefícios concedidos por acidentes e adoecimentos no trabalho 196.754
Fonte: INSS

* Os números referem-se aos afastamentos com mais de 15 dias. Os dados são preliminares.

 

Subnotificação

O auditor-fiscal do Ministério do Trabalho Jeferson Seidler informa que as instituições que acompanham o tema acreditam que esses números sejam bem maiores, porque nem todos os empregadores preenchem as Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), apesar de essa ser uma obrigação legal. Quando a CAT não é preenchida, o INSS só fica sabendo do acidente se o trabalhador é encaminhado para a perícia médica ou quando ocorre uma fiscalização trabalhista. Nesse último caso, o empregador é autuado, e a empresa, obrigada a garantir os direitos trabalhistas do empregado.

No caso dos adoecimentos a subnotificação é ainda maior, porque a relação entre o trabalho e a doença não é tão imediata e evidente como ocorre com os acidentes. São classificados como adoecimento problemas como dores nas costas, transtornos mentais (estresse, ansiedade e depressão) e LER/Dort, bem como perdas auditivas em expostos a ruídos, doenças pulmonares e câncer ocupacional.

Por causa dessa peculiaridade, frequentemente as CATs deixam de ser emitidas informando do problema. Das 349.579 comunicações de acidente de 2017, 8.798 foram registradas como doenças, o correspondente a 1,96% do total. Na maioria dos casos, é na perícia do INSS que o problema é identificado. E no órgão, o percentual dos benefícios concedidos por adoecimento sobe para 32,55%.

“Até meados de 2007, o perito só considerava acidente ou adoecimento causados pelo trabalho quando o trabalhador chegava ao INSS com a CAT preenchida. Com a entrada em vigor de outras formas de reconhecer o nexo, especialmente o NTEP, houve uma mudança no procedimento do perito. Se ele identificar que o problema está relacionado ao trabalho o afastamento é reconhecido como acidentário, isto é, ocupacional, passando a ser computado nas estatísticas”, explica Seidler.

Temas da Canpat 2018

Apesar de a Canpat tratar da prevenção em todas as situações que envolvem o trabalho, a campanha deste ano terá dois focos principais: os adoecimentos e as quedas com diferença de nível, ou seja, quando o trabalhador cai de locais altos, como plataformas elevadas, escadas ou andaimes.

Os adoecimentos estão sendo tratados como prioridade em 2018 porque ainda há um desconhecimento muito grande em relação às doenças causadas pelo trabalho. A Secretária de Inspeção do Trabalho, Maria Teresa Pacheco Jensen, lembra que as empresas tendem a registrar casos de acidentes típicos, quando a relação entre a lesão e o acidente é mais evidente, tais como casos de fraturas, mas tendem a não reconhecer o adoecimento em decorrência do trabalho, como os transtornos mentais e os distúrbios musculoesqueléticos (LER/Dort), que também afastam trabalhadores e podem causar danos permanentes.

“Há uma subnotificação muito grande das doenças causadas pelo trabalho no Brasil. Elas representam menos de 2% das comunicações no país e 1% dos óbitos. Há necessidade de jogar luz sobre esse assunto”, explica.

Já as quedas de trabalho em altura chamam a atenção pela gravidade, apesar de o número de ocorrências parecer pequeno diante do total de acidentes. Das 349.579 Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) entregues ao INSS em 2017, referentes a acidentes típicos e doenças, desconsiderados os acidentes de trajeto, em 37.057 a causa envolveu quedas com diferença de nível, 10,6% do total. Esse percentual sobe, no entanto, quando contabilizados os acidentes fatais. Das 1.111 mortes causadas pelas atividades laborais, 161 foram causadas por quedas. Isso é 14,49 % do total.

“As quedas de altura continuam representando uma das principais causas de acidentes graves e fatais. Ocorre que a prevenção desse tipo de acidente está muito bem definida, especialmente após a entrada em vigora da NR-35, que trata do trabalho em altura. É preciso que todos saibam e se envolvam na prevenção das quedas”, salienta a diretora do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, Eva Patrícia Gonçalo Pires.

Em Santa Catarina, dos 19.695 acidentes registrados em CATs, 1.965 foram causados por quedas de trabalho em altura. Foram registradas 16 mortes com esse motivo no estado.

 

Causas dos Acidentes SC
Impacto 6.078
Queda de trabalho em altura 1.965
Atrito ou Abrasão 2.482
Aprisionamento 1.558
Queda de trabalho em mesmo nível 1.042
Contato com pessoas doentes ou material infeccioso 907
Outros 2.378
Não informado 3.285
Total Geral 19.695

Fonte: CATs

* Não são levados em conta os acidentes de trajeto

Causas das Mortes SC
Impacto 33
Queda de trabalho em altura 16
Energia elétrica 6
Aprisionamento 5
Outros 11
Não informado 14
Total Geral 85

Fonte: CATs

* Não são levados em conta os acidentes de trajeto

 

Durante a campanha de 2018, o Ministério divulgará cartilhas sobre trabalho em altura; cartilha sobre manutenção em fachadas; manual consolidado explicativo sobre a NR-35, que trata sobre condições seguras dos trabalhos em altura; Guia de Procedimentos da Inspeção do Trabalho (Manual de Fiscalização do trabalho em altura e Manual de Fiscalização do PCMSO) e ainda cartilha sobre adoecimento ocupacional, que buscará orientar trabalhadores e empregadores sobre o tema.

Além disso, serão produzidos cartazes, banners e folhetos, que serão distribuídos pelas superintendências regionais nos estados e também por meio digital. O coordenador da Canpat 2018, José Almeida, explica que a intenção é difundir o maior número possível de informações para que todas as pessoas conheçam as causas e possam, assim, prevenir acidentes e adoecimentos.

“A informação é a ferramenta mais eficiente para diminuir acidentes e reduzir os adoecimentos. E ela é importante tanto para os empregadores, que devem garantir ambientes saudáveis e seguros nas suas empresas, quanto para os trabalhadores, que precisam observar e seguir as normas existentes para não entrarem para as estatísticas”, observa.

Fonte: Ministério do Trabalho