Entrevista com presidente da ACIB aborda economia, turismo, política e futuro de Blumenau

Foto: Claus Jensen
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Foto: Claus Jensen

Nesta quarta-feira (20), dois dias após ser reeleito para o segundo mandato, o presidente da ACIB, Carlos Tavares D’Amaral, nos recebeu na Cia Hering, para uma entrevista. Os assuntos foram desde o trabalho que promoveu na entidade, passando por política, turismo e futuro de Blumenau.

OBlumenauense: Quais as ações que o senhor destacaria neste primeiro mandato frente à Acib?

Carlos Tavares D’Amaral: Acredito que aumentou a representatividade da ACIB no meio empresarial, principalmente a melhora da gestão nas micro e pequenas empresas. Mais de 90% dos associados se encaixam nesse perfil, que normalmente não tem a mesma estrutura para treinamento de uma empresa de porte maior. A Acib com seus 22 núcleos temáticos e setoriais, oferece vários treinamentos para melhorar a gestão e evitar que elas desapareçam rapidamente do mercado. Treinamentos sempre houveram, mas estamos realizando muito mais do que antes, além de dar mais força aos núcleos.

No começo desse ano, nós fizemos um planejamento estratégico para todos os núcleos, utilizando a metodologia canvas. Os participantes foram incentivados à buscar sua essência, escala de valores, o porque do núcleo, quais os benefícios que eles de fato dão para os nucleados, e assim por diante. Com isso eu acredito que estaremos dando um salto de qualidade muito grande, além de termos mais empresas participando deles. Nós percebemos que quando elas são nucleadas, elas sempre tem melhoria nos resultados.

Os associados precisam ver na Acib, a representatividade e importância que a entidade tem. Não somente focar nas vantagens de curtíssimo prazo, como o que ele ganha nos convênios e seus descontos. Mas sim olhar o negócio do associativismo, que é uma ferramenta poderosa para melhorar o networking. Os núcleos permitem que empresas do mesmo setor não trabalhem como concorrentes, mas que possam resolver os seus problemas comuns, liderados pelos consultores que a ACIB coloca à disposição.

OBlumenauense: Quais são os principais objetivos desse novo mandato?

Carlos Tavares D’Amaral: Continuar fortalecendo os núcleos e os treinamentos. Além disso, aumentar a cobrança pelas coisas que Blumenau precisa e como eu comentei em minha posse “às vezes a gente malha em ferro frio, e demora muito para acontecer”. Acredito que minha fala não tenha sido uma crítica ao governador, e sim uma cobrança. Não dá para esperar 2 ou 3 anos para as coisas acontecerem. A iniciativa privada não funciona assim, por isso quando ela faz uma parceria com o governo, normalmente as coisas acontecem com mais velocidade. Porque aí você não precisa licitar, o que sempre acaba sendo um caos. Primeiro você tem que licitar o projeto, e se algum dos participantes se sente prejudicado, já entra com uma medida judicial e a coisa fica parada durante semanas ou meses. Perde-se muito tempo e dinheiro.

OBlumenauense: Durante anos Blumenau foi uma referência econômica em SC, mas aos poucos tem perdido sua posição de liderança. Ano passado por exemplo, Itajaí foi a que mais arrecadou ICMS. O que podemos fazer para recuperar isso?

Carlos Tavares D’Amaral: O fato de Itajaí ter o porto faz muita diferença, porque muitas vezes o ICMS é recolhido lá em vez da cidade de origem da mercadoria. Isso vale para todo o complexo portuário, que inclui Navegantes. Vale ressaltar, que todos os dois portos são muito eficientes. Em Itajaí por exemplo, o espaço para a movimentação de contêineres é muito pequeno, mas eles conseguem fazer isso com eficiência. Isso ajudou Itajaí a atrair novas indústrias e estimular a construção naval.

No caso de Blumenau, durante muito tempo a economia estava atrelada à indústria têxtil. Toda vez que ela atravessava uma crise, a cidade (e região) acabava sendo atingida. Recentemente conseguimos sair um pouco disso, já que a área de serviços cresceu muito na cidade, sendo hoje a principal força econômica, o que eu acho muito salutar. Nós estávamos atravessando um momento muito bom da economia até 2008. Mas quando aconteceu a catástrofe, demos alguns passos para trás. Entendo que a adversidade é algo forte, mas parece que a prefeitura deu uma parada a partir daquele período. O ex-prefeito João Paulo Kleinubing vinha num momento muito bom, mas depois da catástrofe se recolheu, assim como todos nós. Acho que Blumenau sentiu isso muito.

Nós agora queremos crescer de novo, mas outros ocuparam esse espaço que deixamos. Blumenau tem que procurar uma vocação, que já foi turismo de compras, somos “Alemanha sem passaporte”, mas de fato precisamos procurar algo que de fato impulsione a economia. Eu acho que o turismo de eventos de porte médio, pode trazer isso para nós. Os grandes irão acontecer em Balneário Camboriú, que vai construir seu centro de eventos, e Florianópolis que já tem. As duas cidades, tem uma rede hoteleira muito melhor que a nossa.

Acredito que o centro de eventos em Blumenau, será um pólo catalizador do que precisamos melhorar, como a gastronomia e hotelaria. Neste tipo de turismo, não vem só quem participa de uma feira, por exemplo. Muitas vezes os participantes trazem a família junto, que participam de atividades paralelas ao evento. Isso traz mais gente e faz a economia girar.

O que nós precisamos é manter o turista na cidade pelo menos por 1 ou 2 dias. Muitos vem do litoral, quando o tempo fica nublado ou chove. Eles passeiam pela cidade, compram algumas coisas, mas não ficam por aqui, voltando para onde estão hospedados.

OBlumenauense: Qual na sua opinião é o segmento que mais se destaca e pode representar o futuro? A indústria têxtil ainda é forte?

Carlos Tavares D’Amaral: Ela apanhou muito. Temos a Sulfabril, que foi um pecado fechar. A Teka está praticamente fechada, enquanto a Karsten que exportava mais de 50% da produção, sofreu com a queda do dólar nestes últimos anos. Ela teve que colocar tudo no mercado interno, e acabou não absorvendo seus produtos na velocidade que a Karsten precisava. Mas felizmente estão se recuperando aos poucos com essa nova gestão.

O segmento de cama, mesa e banho; sofre bastante com a queda da economia. Porque no momento em que o país não está crescendo tanto assim, as pessoas não se importam se a toalha, lençol e outros produtos tenham um furinho. Em vez de renovar, as pessoas dão preferência para adquirir coisas que sejam mais importantes para o seu dia a dia. Nossa economia cresceu na época do governo Lula, mas ele também teve muita sorte, porque pegou um momento muito bom. Mas agora temos “nuvens negras”. É bom lembrar que todas essas empresas que enfrentaram problemas, tinham um número grande de funcionários. Mesmo assim, temos pleno emprego em Blumenau. Mas as empresas enfrentam problema com a disponibilidade de mão de obra qualificada. Quando há, ela é ruim e despreparada. Nós aqui na Companhia Hering temos vagas abertas há quase um ano, porque a qualidade da mão de obra que vem é muito ruim e não conseguimos preenchê-las.

Temos conversado muito com o SENAI e a FIESC nesse sentido, já que é um braço de treinamento muito forte. Nós procuramos preparar mão de obra para o que de fato as indústrias precisam neste momento na nossa região.

Nós temos várias opções em cursos superior na cidade, eu diria que até demais. O que nós precisamos é de um curso médio técnico de ótima qualidade. O Brasil precisa muito mais de técnicos, do que doutores. Muitas vezes a pessoa se forma numa faculdade, faz o trabalho que um técnico faria tranquilamente e até com mais qualidade. Porque o curso técnico está mais próximo da prática do que um curso superior, que acaba sendo muito teórico e você acaba usando pouco daquilo que aprendeu.

OBlumenauense: Falando um pouco de política, nesta quinta-feira (21), nós teremos a audiência pública que irá debater o aumento dos vereadores, onde a ACIB já se posicionou contra. Qual a sua expectativa?

Carlos Tavares D’Amaral: A minha expectativa atual é de que o projeto não vai passar. Nas últimas conversas que nós tivemos com vários vereadores, o que vem acontecendo nas redes sociais, a própria pesquisa feita pelo Ideco, em que mais de 90% dos entrevistados são contra esse aumento, está fazendo com que os vereadores reflitam melhor sobre o assunto.

O momento foi muito mal escolhido, já é mais época de apertar o cinto, do que afrouxar. Nós não temos voto distrital o que quer dizer que essa história de que aumenta a representatividade das minorias, como os negros, índios, gays, como o Célio Dias comentou, é uma bobagem. Pelo nosso sistema eleitoral, essas minorias continuam sem chance nenhuma. Isso vai beneficiar muito mais os partidos do que a comunidade em si. Principalmente os partidos pequenos, aqueles que conseguem fazer uma coligação, e eleger um vereador com uma quantidade pequena de votos. Enquanto isso, um candidato que obteve mais votos não entra, por conta da coligação e legenda. Isso é algo que nós também precisávamos mudar, porque o sistema de quociente eleitoral é muito ruim. Na hora que tivermos o voto distrital ou distrital misto, aí até poderia justificar o aumento do número de vereadores, uma vez que você divide a cidade em distritos e aí começa a eleger de fato um representante de cada um. Ou seja, aquele que você vai poder cobrar e pedir ações de fato para aquele bairro ou distrito.

Outra coisa que me incomoda é a própria instalação da câmara de vereadores. Aquele prédio não tem espaço suficiente para esse aumento, que no final acabou ficando um labirinto. Já foi gasto dinheiro para aquelas reformas todas e teremos que fazer de novo. Será um novo valor para ampliar o número de gabinetes e a área onde os vereadores ficam, o que ainda irá diminuir a área em que o povo acompanha o que eles estão fazendo. Até para estacionar naquela região é muito ruim, inclusive para os próprios vereadores.

Na questão dos carros, eu não entendo porque o vereador necessita ter um da câmara. Com o aumento do número de vereadores, seriam mais oito carros. E aí precisa de mais oito garagens, onde possivelmente teria que ser locado um espaço. Tudo isso é custo. Eu não consigo entender como eles dizem que não vai aumentar a despesa. Pode ser que a despesa não estoure a verba que eles recebem hoje, mas é lógico que ela irá aumentar. Quanto à proposta de reduzir o número de assessores parlamentares para terem menos despesas; pergunto porque eles já não fazem isso hoje com 15 vereadores? É muito mais importante que deixem as sobras serem devolvidas para a prefeitura, para que sejam aplicadas em obras que serão importantes para a comunidade.

OBlumenauense: Como está a relação entre a ACIB e o governo estadual?

Carlos Tavares D’Amaral: O nosso relacionamento com o Governador Raimundo Colombo é muito bom. Nós temos em Blumenau um grupo de 6 entidades (ACIB, CDL,AMPE, Intersindical Patronal, OAB e Codeic) que nós chamamos de G6, onde nós conversamos com relativa frequência com o governador. Todas as nossas cobranças para a cidade, vem através desse grupo. As reuniões sempre são agendadas de acordo com a necessidade e ele sempre esteve aberto para nos receber.

OBlumenauense: E em relação ao governo do prefeito Napoleão Bernardes, que agora completa 2 anos e meio? Qual a sua avaliação?

Carlos Tavares D’Amaral: O relacionamento com o prefeito é muito bom. Mas ele quando foi candidato, colocou determinadas questões que nós achávamos importantes, mas não está conseguindo executar. A colocação de pessoas mais técnicas nos postos chaves do governo para efetivamente fazer toda gestão caminhar é um exemplo. A gente sente que ele não está conseguindo fazer isso, porque acaba ficando refém dos partidos. Na verdade, esse é um problema do Brasil de uma forma geral. Você não consegue governar se não tiver o apoio de um número determinado de partidos, que é “quase comprado”, ou seja, tem que dar alguma coisa em troca. O apoio não é para conseguir fazer uma boa gestão, mas por interesses partidários mesmo. Então partido tal indica um secretário, e assim por diante. Eu sinto que ele não queria fazer isso, mas acabou fazendo. Isso atrapalha muito.

Outra coisa, é a questão da ponte. Enquanto candidato, ela fazia parte de sua campanha para colocá-la num lugar diferente do que tinha sido planejado pelo governo anterior. Em princípio eu acho que nós deveríamos fazer primeiro essa ponte aqui do centro (Rua Rodolfo Freygang) e só depois essa nova. Eu tenho certa preocupação em como essa nova irá chegar na Rua Paraguai. Construir um viaduto próximo da Rua República Argentina vai ser uma coisa muito complicada. Eu acho que se a ponte for construída na curva do rio, ela deveria sim entrar pela Rua Paraguai, mas logo em seguida o fluxo deveria ser direcionado para a Rua Chile, com um binário para o centro.