Dia do Professor: a motivação ao escolher sua profissão e os desafios da educação

 

Por Claus Jensen

Há muito tempo sabemos que a educação é o único caminho para sermos um país desenvolvido. Mesmo assim, os estímulos aos professores estão aquém do ideal, isso sem falar da estrutura de muitas escolas em todo país. Neste domingo, 15 de outubro, foi o Dia do Professor. Parabéns a todos os mestres, que nos permitiram ler e entender o assunto desse texto.

Conversamos com 11 profissionais que trabalham com alunos desde o ensino fundamental até o universitário. Queríamos saber o que os motivou a entrar no magistério e como está o desafio de educar. Para essa matéria, tivemos a colaboração da Coordenadora Pedagógica Susana Bartira, que auxilia OBlumenauense nas questões ligadas à educação.


O professor Salésio Cardoso, que trabalha na Escola Básica Municipal Vidal Ramos, se sentiu motivado ao magistério, para ajudar os alunos a ter uma visão do mundo que os cerca. “Queria que eles tivessem uma leitura, não só pelos livros, mas pela vida, tendo autonomia na sociedade”. Para ele, a tecnologia deve ir ao encontro do aluno para aumentar sua percepção da sala de aula, mas em outros âmbitos escolares.

Cardoso destaca a importância da multidisciplinaridade, em que várias matérias se afunilam em um só objetivo. Lecionar no Vidal Ramos, tem “um algo especial”: foi lá que Salésio estudou o 1º grau. Hoje ele é contador de histórias infantis do pré ao quinto ano, além de dar reforço em língua portuguesa para os alunos com dificuldade de aprendizagem. Ele se sente orgulhoso da profissão que escolheu e trabalha há 18 anos.


Alcione Lídia Abreu Olivieri, tem 20 anos de magistério e trabalha na Escola Básica Municipal Alberto Stein, onde leciona Língua Portuguesa. Ela sempre teve vontade de ser professora, era algo que achava “bonito”. “Embora muita coisa tenha mudado, reparo que o respeito (ao professor) tem diminuído. São muitos desafios, mas o que me aborrece é ver que alguns professores só pensam em permanecer na escola básica pela estabilidade de trabalho, não nos alunos ou na educação” comentou Alcione.


Nilton Sehnen leciona há 28 anos Língua Portuguesa. “Nos últimos dez anos tenho me colocado no lugar deles (alunos), e interagir, sem deixar de lado os conteúdos necessários. Mas sempre dialogando”, disse. Foram os professores de infância que o inspiraram a seguir sua profissão. O professor se aposentou em 2017 na rede municipal, mas continua lecionando na rede estadual.


Quando Luciana Patrícia Bazzoti decidiu ser professora, pesou na escolha uma melhora financeira. Mas depois, sentiu que esse era seu dom. Hoje trabalha como alfabetizadora na EBM Lauro Muller. “Atualmente ensinar exige mais sensibilidade, porque as crianças e o meio mudaram muito com o tempo; e a escola não pode ficar estagnada. Mudei meu olhar sobre a tarefa, sobre o ensinar sem função social, sobre a cópia”, disse Luciana. Ela lembra que as mudanças são visíveis a cada ano nos anseios e interesses dos alunos.

“No meu caso, falando numa visão micro, acredito que o maior desafio é continuar acreditando no meu ofício.Já em uma visão macro, o maior desafio são os conflitos com uma política educacional que não dá conta das reais necessidades do cotidiano da escola. Isso nas esferas municipal, federal e da própria conjuntura brasileira. São tantos desafios, mas tão pouco respaldo e valorização do magistério”, desabafa a professora Luciana.


Já fazem 15 anos que Bianca Michele Beckhauser Calixto começou a lecionar e atualmente trabalha na EBM Felipe Schmidt. Ela sempre teve paixão pela profissão, que considera uma verdadeira missão. “A forma de ensinar vai de cada professor. Mas, penso que nesta última década tem sido cada vez mais desafiador. As crianças e os adolescentes estão resistindo mais aos ensinamentos, sem contar a falta de limites (no comportamento). Bianca relata a ausência dos pais no cotidiano escolar de seus filhos. “Acredito que a paixão pelo que fazemos é o que nos mantém firmes e fortes pela profissão.”


Raquel Carla Florentino Koehler ensina Língua Portuguesa e Inglesa nas escolas estaduais EEB Pedro II, EEB Prof. Wigand Gelhardt  e EEB Christoph Augenstein. Quando Raquel começou a trabalhar como professora há 23 anos atrás, não só realizou o sonho da mãe, como descobriu a sua própria vocação. Ela reconhece que está cada vez mais difícil competir com as mídias, por isso é necessário trazer a internet e aplicativos educacionais para a sala de aula.


Antes de lecionar na Escola Anjos da Terra, Roberta Analine Deschamps Hass, de 26 anos, trabalhou em outras áreas, mas não se sentia realizada. Foi sua sogra, percebendo o amor que ela tinha por crianças, que a incentivou ingressar na licenciatura. Agora já faz quatro anos que trabalha como professora.

“Para que haja o desenvolvimento, é necessário que nós professores possamos proporcionar possibilidades para cada criança, respeitando individualmente o seu tempo e suas diferenças. Hoje, todos sabem o quanto é vergonhoso o salário de um professor, pela importância da nossa profissão. Mas além do salário, muitos valores estão invertidos, porque não há mais respeito pelo professor. Muitos pais e responsáveis esquecem que a educação vem de casa. A escola é lugar de aprender e compartilhar conhecimento”, finaliza Roberta.


O professor de formado em história, Geovani Richartz, leciona Ensino Religioso nas escolas municipais Machado de Assis e EBM Alberto Stein, para um total de 28 turmas do 1° ao 9° ano. “Sempre gostei de conviver em meio às pessoas. Nas profissões que exercia antes do magisterio, meu objetivo era fazer um bom trabalho e com ele beneficiar o próximo. São várias as razões que me levaram a atuar como professor, entre as quais, a inspiração nos bons docentes da Educação Básica e o desejo de contribuir com a vida das pessoas”, comenta Geovani.

Para ele também é essencial introduzir Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na sala de aula. “O professor deve utilizar as novas tecnologias para dinamizar as aulas, despertar maior curiosidade nos alunos, trabalhar com ferramentas que eles estão conectados e que atenda os seus diferentes estilos de aprendizagem”, finaliza.


O casal de professores, Gerson Dickmann, que leciona há 7 anos nas escolas municipais Prof João Joaquim Fronza, EBM Quintino Bocaiúva e EBM Lore Sita Bollmann na disciplina de Matemática, e Maria Aparecida Ribeiro dos Santos Dickmann, lecionando há 32 anos , hoje professora na EBM Felipe Schmidt com anos inicias afirmam que nessas horas, com tanto trabalho, parecem super heróis na transmissão do conhecimento.

Para eles, “A grande mudança nos últimos 10 anos é que precisamos estar bem antenados, fugir do tradicional, convencional ,e sermos muito criativos. O maior desafio na rede pública é fazer muito com pouca estrutura”. Na escolha pelo magistério, ele queria uma profissão que contribuísse com a formação humana. Mas acha que há um grande retrocesso na perspectiva da educação para contribuição do processo social. Faltam investimentos nas unidades de ensino, valorização dos profissionais e qualidade nas formações.


O professor Pedro Sidnei Zanchett, de 43 anos, também ama o que faz, afinal leciona em três instituições, tanto no ensino presencial quanto a distância. Em Blumenau dá aulas na Fameblu, mas se desdobra trabalhando na Uniasselvi de Indaial e Unifebe em Brusque.

Formado no magistério em 1992, ele completa 25 anos da profissão no fim do ano. Zanchet sempre gostou de estudar e diz que ao ensinar, também aprende. “O professor é o ego-auxiliar que potencializa o aluno na sua inteligência para ser um agente de transformação. Pelo conhecimento podemos transformar nossas vidas. Temos condições de mudar, criar e inovar. Quando vejo meus alunos e ex-alunos bem posicionados na vida profissional, na área de tecnologia fico feliz. É um mercado dinâmico, competitivo onde o aprender e adquirir conhecimento é fundamental” comenta.

Seu maior desafio na forma de lecionar hoje, é conseguir articular de forma colaborativa recursos tecnológicos no aprendizado. Para Zanchett é preciso mudar o paradigma em que o professor não serve apenas para ensinar, mas ser alguém que media, orienta cada aluno naquilo que tem interesse, preferências e habilidades.

A melhora no aprendizado de um aluno, sempre depende de um conjunto de fatores. Começa com o seu interesse em querer estudar, do professor mesclar vários métodos de aprendizagem tradicionais até aulas interativas onde o aluno participa ativamente. Já o professor, precisa ser mais valorizado financeiramente no Brasil.

E como todos os professores dessa matéria comentaram, Pedro também considera urgente aumentar o investimento nas plataformas tecnológicas. Além disso, é necessário dar maior suporte em novas metodologias de ensino e aprendizagem capacitando ainda mais o professor e seus alunos na construção do conhecimento.