De sobrevivente a protagonista: a mulher que transformou limitação em superação.

Conheça a história de Bruna Daniel, que reescreveu sua vida após um grave acidente em setembro de 2008.

Foto: divulgação

Quando o prefeito Egídio Ferrari assumiu a prefeitura de Blumenau em janeiro de 2025, a cidade passou a contar com uma nova Secretária de Inclusão da Pessoa com Deficiência e Paradesporto: Bruna Cristina Gomes de Araújo Daniel. Aos 38 anos, mãe de dois filhos e com uma trajetória marcada por desafios e superação, ela assumiu a missão de promover políticas públicas voltadas à acessibilidade e à inclusão, causas que conhece na prática e defende com paixão.

Natural de Canoas (RS), Bruna já morou em diferentes lugares. Passou a infância em sua cidade natal, mudou-se para Porto Alegre aos 8 anos e viveu lá até os 16. Aos 17, foi para Florianópolis, onde concluiu o ensino médio e conheceu um paulista com quem se casou logo depois. Com 19 anos, teve sua primeira filha e, aos 21, nasceu um menino.

O ACIDENTE

Tudo parecia perfeito e normal, até que um ano depois, em setembro de 2008, um acidente de carro na rodovia Régis Bittencourt mudou completamente a sua vida. Durante uma viagem à Cajati (SP), o veículo em que estavam perdeu o controle devido ao óleo na pista e capotou em uma ribanceira.

No momento do acidente, Bruna estava no banco traseiro, ao lado dos filhos pequenos – um bebê de um ano e uma menina de três anos. Seu filho chorava de fome, e ela, tentando acalmá-lo, retirou o cinto de segurança por um breve momento para amamentá-lo. Foi nesse instante que tudo aconteceu. O carro deslizou na pista molhada e capotou, caindo em um barranco de aproximadamente 10 metros.

A força do impacto fez com que o porta-malas se abrisse, e Bruna foi arremessada para fora do veículo. Quando recobrou a consciência, já estava dentro de uma ambulância, sentindo frio e sem entender a gravidade do que havia acontecido. Passou 20 dias na UTI e recebeu o diagnóstico de paraplegia da pior forma possível: ouviu dois médicos comentando sobre sua condição enquanto passavam o plantão. “Essa aí já está paraplégica”, disseram, sem perceber que ela os escutava.

Durante um ano, permaneceu em São Paulo, onde seu filho passou por cirurgias e tratamentos médicos. Foram meses difíceis, em que, por um longo período, permaneceu imóvel, lúcida, mas sem conseguir mexer o corpo. Quando chegou o momento de voltar para casa, decidiu não retornar a Florianópolis. Seu marido sugeriu Blumenau, onde via boas oportunidades de trabalho, e a cidade se tornou seu novo lar.

 

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A SUPERAÇÃO

O recomeço, no entanto, não foi fácil. Bruna enfrentou não apenas as barreiras físicas da paraplegia, mas também o preconceito e a dificuldade de aceitação. Nos primeiros anos, evitava sair de casa, não tirava fotos, não comemorava aniversários e observava o mundo apenas pela janela.

Quatro anos após o acidente, durante uma perícia no INSS, tomou uma decisão radical: abriu mão do benefício que recebia desde o acidente e decidiu voltar ao mercado de trabalho. “Cancela o meu benefício, porque eu não sou nenhuma inválida. Quero trabalhar”, declarou.

A decisão abriu portas. Trabalhou por seis anos em uma empresa de telemarketing e, em seguida, ingressou em uma multinacional. Durante esse período, conseguiu se formar em Comércio Exterior, o que abriu novas oportunidades para sua carreira. Sua trajetória profissional seguiu crescendo até que recebeu o convite para atuar no setor público, tornando-se diretora de Políticas Públicas.

 

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O PARADESPORTO

Mas outro fator foi determinante para sua transformação: o paradesporto. No início, buscou o esporte como uma forma de melhorar sua qualidade de vida, mas rapidamente percebeu que poderia ir além.

Começou na natação, passou para a cadeira de corrida e, por fim, foi convidada a praticar pararemo. Foi a primeira atleta da modalidade em Blumenau, conquistando títulos nacionais e internacionais. Entre suas conquistas, sagrou-se campeã brasileira e duas vezes vice-campeã sul-americana pela seleção brasileira.

“O esporte me mostrou que não há limites para quem acredita”, diz. No remo, encontrou uma nova forma de liberdade e independência. Mas seu maior suporte sempre veio da família. Casada há mais de 20 anos, conta com o apoio incondicional do marido, que esteve ao seu lado em todas as fases. Seus filhos, hoje com 19 e 17 anos, foram sua força nos momentos mais difíceis. “Eu digo que meus filhos são as minhas pernas”, afirma.

 

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A ACEITAÇÃO

Ao longo dos anos, Bruna também enfrentou desafios emocionais. No início, teve dificuldades para aceitar sua imagem. “A mulher é muito vaidosa. Eu não me via mais como uma mulher bonita e atraente para o meu marido. Isso mexeu muito comigo”, relembra. No entanto, com o tempo, reaprendeu a se amar e a se reconhecer. “Descobri que, mesmo estando na cadeira de rodas, eu também poderia ser bonita”, completa.

Hoje, como secretária municipal, Bruna usa sua experiência para impactar a vida de outras pessoas. Sua jornada, marcada pela resiliência e pela superação, inspira outras mulheres que enfrentam desafios semelhantes.

 

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Neste Dia Internacional da Mulher, sua mensagem é clara:

“Ser mulher é desafiar expectativas, se reinventar e se fortalecer a cada obstáculo. É transformar dor em aprendizado, medo em coragem e barreiras em degraus para seguir em frente. Que cada mulher, independentemente das dificuldades que enfrente, possa se olhar no espelho e se reconhecer como forte, capaz e digna de todas as suas conquistas. Acredite em si mesma e tenha fé sempre. Se eu consegui, você consegue também.”