Por Sérgio Luiz Campregher – Historiador
Os pioneiros da colonização italiana em Blumenau eram compactamente do credo católico. Providos das montanhas e dos “paeselli” (países) do Norte da Itália, não haviam sofrido as influências do liberalismo agnóstico e anti-clerical manejado como arma para realizar a Unificação Italiana e correspondente supressão dos Estados Pontifícios.
Mantinham ainda a piedade simples e ingênua de uma população rural aglomerada em torno das igrejas paroquiais onde cultivavam suas devoções mariais à pregação do sacerdote. Foi em torno do altar de sua igreja que receberam as últimas recomendações de seu pároco rumo ao desconhecido.
Aqui chegados, atirados à solidão da floresta virgem nos lotes onde se estabeleceram, a religião surgiu como um sustentáculo, refúgio e fonte de energia para a luta. Iniciando o desmatamento e a queimada, construíram miseráveis choupanas para si e para suas famílias e a noite, fatigados pelo trabalho estafante do dia, se reuniam com a família e rezavam. Conscientes de sua limitação e abandono injusto, contactavam com Deus através de suas devoções herdadas do passado e sugadas com o leite materno.
Guardando a mais possível vizinhança com os companheiros de imigração para se estimular mutuamente, também mutuamente providenciavam a construção de rústicas capelas de palmitos, dando-lhes como patrono o santo de seu “paesello” natal, apagando assim a saudade que deles sentiam.
A capela sempre era obra da comunidade e se constituía não só no lugar do culto, como de centro social, comercial e sinal de progresso e prestígio da região.
Longe de sua pátria e costumes, os imigrantes, especialmente italianos, alemães e poloneses tiveram na fé a sua maior segurança. Já em viagem, através do oceano atlântico, devido a enfermidades diversas, alguns morriam. Seus cadáveres eram jogados ao mar, como um verdadeiro sepultamento. Fazia-se o velório e acompanhava-se o morto com orações e cantos dirigidos por um leigo, até que as águas envolvessem o corpo.
Assim que os imigrantes tomassem posse das colônias, era necessário escolher também um lugar sagrado para colocar os mortos, sepultados com muita dor e oração, sem acompanhamento do sacerdote. Dessa forma surgiram os primeiros cemitérios, verdadeiros sinais materiais do espírito religioso do imigrante.
A cruz, as flores, o cercado para a proteção dos túmulos, as visitas constantes, o ponto de destaque em que se situaram os cemitérios, tornou-se o primeiro lugar de culto e de expressão religiosa dos imigrantes.
O enterro também foi a primeira experiência de solidariedade comunitária em que o grupo tinha que, às pressas decidir um lugar para enterrar, fazer uma caixa mortuária, abrir uma cova, preparar a cruz, colher flores, realizar a procissão, fazer orações e abençoar o túmulo.
Esta necessidade desencadeou toda uma iniciativa religiosa espontânea entre os fiéis leigos, que os fez rememorar e reviver com saudades suas comunidades deixadas na Itália, Alemanha e Polônia, com suas igrejas, campanários, cemitérios e escolas.
A ALIMENTAÇÃO TRENTINA
No tempo da migração, o povo trentino era carente de uma boa alimentação. Hoje não é mais assim. O trentino possui uma gama vastíssima de vinhos de boa qualidade como o Teroldego Rotaliano, Caberbet, Merlot, Lagrein, Riesling, Pinot, Traminer, Moscato entre outros.
O leite trentino provém das montanhas alpinas. Seus derivados são os mais apreciados em toda a região. Entretanto o que mais se admira na província de Trento são as frutas. As maçãs, pêras, o pêssego, a castanha possuem características interessantes que as tornam agradáveis ao paladar mais exigente, pela alta qualidade, devido ao clima das montanhas. Trento é a terra da fruta. Val di Non é o jardim das maças, onde se produz 60 % do produto em toda a província. A pêra e o pêssego são produzidos especialmente em Valsugana, Val Di Sarca e Val D’Adige.
Outro alimento importante para o trentino é o “funghi”, cogumelos nativos e cultivados, que se colhem em qualquer época do ano. O mel é outro alimento especial. Em toda a província há mais de 800 apicultores. Trinta gramas deste mel contém 56 calorias, enquanto a mesma quantidade de carne produz só 30 calorias.
Contos e Histórias Trentinas
A magia das lendas e das fábulas inventadas para as noites de inverno.
Você sabe o que é o Filó? É, alias era, a reunião – nas tardes de inverno – de várias famílias da mesma aldeia, nos estábulos ou em outro local quente de uma delas: as mulheres acudiam os trabalhos femininos, os homens fumavam ou debulhavam as espigas de milho, e no silêncio geral, a turno, havia quem entretinha os outros com contos de lendas e fábulas. Era em uma palavra, a distração dos tempos em que não havia sido ainda inventada a televisão, e a cuidar da fantasia e da moral eram os contos tramandados oralmente de geração em geração. Ali os jovens podiam observar os sentimentos das moças, quando a história contada roçava sentimentos ou aventuras de amor.
PROVÉRBIOS TRENTINOS
Os trentinos, com seu forte enraizamento no ambiente rural fez eco a sabedoria emitida pelos provérbios: um destilado de experiências individuais repetidas de geração em geração, um tipo de “bíblia dos povos”, de lei não escrita, transmitida oralmente graças a facilidade de lembrar uma frase simples ou duas frases contrapostas que são até fáceis de lembrar graças a pitada de ironia que aumenta o efeito da evidência moralística nos círculos da risada.
Vejamos alguns destes provérbios:
Se te vòi saver la veritá, va dal pú picol de la cá.
Se quiser saber a verdade fale com o menor da casa.
Chi pegora se fa, lovo la magna.
Quem se faz de ovelha o lobo come.
Àsen bem vesti no I`sconde le réce.
Burro bem vestido não esconde as orelhas.
A chi no vól far fadiche, el terén prodùs ortighe
À quem não quer fazer fadigas, o terreno produz urtigas.
Na man lava l’altra, tute dói em mus.
Uma mão lava a outra, as duas lavam o rosto.
Bisògn far el pás secondo la gamba per no roter le braghe.
É necessário fazer o passo conforme a perna para não rasgar as calças.
Chi che sèmina spini no ‘I à da ‘ndar em giro scólz.
Quem semea espinhos não deve andar descalço.
Povoados Trentinos: Rio Ada
Povoado misto de descendência italiana, alemã e polonesa, localizado a 14 km do centro de Rio dos Cedros – SC, está localizado entre montanhas por onde serpenteiam os córregos Josefina, Joana e Carolina, afluentes do Rio Ada.
Fontes e bibliografia consultada:
COLLANA DI MONOGRAFIE ‘LA PATRIA D’ORIGINE” – PROVINCIA AUTONOMA DI TRENTO Coleção de Monografias: “A Pátria de Origem” O Belo Trentino – Casa Editrice Panorama – Trento (Itália) – 1988.
GROSSELLI, Renzo Maria. Vincere o Morire – contadini trentini (veneti e Lombardi) nelle foreste brasiliane – Santa Catarina 1875-1900 – Trento 1986.
Blog da Familia Uber – acesso em 15/01/2014.
VICENZI, Victor. História e Imigração Italiana em Rio dos Cedros. Editora e Gráfica Odorizzi Ltda. Blumenau, 3 edição. 2000.