Cultura para todos: a arte inclusiva do projeto Música em Cores

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Por Luiz Guilherme Antonello

Um artista que busca incluir todo o tipo de público na sua arte. Que não define o “enxergar” com a simplicidade de um olhar. O intérprete, compositor e artista plástico, Antônio da Silva, entende que cada um vê de uma forma diferente: pelos olhos, pelo toque dos dedos, ou pela audição, e, a cada passo, zela para que ninguém fique de fora de suas exposições.

 

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A nova mostra de Antônio, “Música em Cores”, abre no dia 3 de novembro e segue até o dia 7 de dezembro, no Centro Cultural da Vila Itoupava, em Blumenau, Santa Catarina. Com entrada gratuita, a exposição traz 20 telas, com tamanhos que variam de 0,65×0,50 a 1,20×0,80 metros, algumas delas produzidas para serem tocadas, sentidas pelas pontas dos dedos, possibilitando a inclusão de deficientes visuais a este universo de cores, canções populares e cultura brasileira. A mostra dispõe de um CD com seis músicas, compostas e interpretadas por Antônio, que são distribuídas gratuitamente ao público no local. As canções estão disponíveis para serem ouvidas e baixadas clicando aqui.

 

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Segundo o artista, a ideia da acessibilidade o acompanha desde o começo da carreira. “Eu sempre pintei e só fui trabalhar com a arte por entender que conseguiria, no processo, trazê-la de forma inclusiva. Sabia que de início não daria conta, pois não tinha experiência. Trabalhando, eu fui encontrando mais desafios e superando cada um. Em cada exposição surgia um novo tipo de exclusão e, sempre quando vinha a próxima, eu procurava melhorar”, assume.

A brailista da Sociedade Cultural Amigos do Centro Braille de Blumenau, a ACBB, Eliane Luchini, trabalhou na etiquetagem das obras, que traz as informações da exposição em braile. “Temos vários artistas em todo mundo e poucos se preocupam com os cegos. Se a cultura é para todos, isso inclui os deficientes visuais. A visão dos cegos está no tato, e a mostra foi feita para ser tocada, para ser sentida”, explica.

Uma exposição onde Luana Tillmann, que perdeu toda a visão aos 15 anos, em decorrência de um deslocamento de retina, poderá participar. “Eu me sinto parte, pelo fato dele se preocupar, pensar e querer contemplar este público, ver a pessoa com deficiência visual como consumidora da arte é muito gratificante. Desmitifica que a pessoa, por ser cega, não vá se interessar. Nós temos interesse em participar!”, destaca a revisora Braille, do Centro Municipal de Educação Alternativa, o CEMEA.

 

Arte em cores, toque e som

Antônio nasceu em Itajaí, e veio para Blumenau aos oito anos de idade. Em meio à infância conturbada e a rebeldia da adolescência, o artista viu na música uma forma de filtrar e controlar os sentimentos. “Se a gente considera a arte ligada à saúde, não como salvadora, mas como uma ferramenta, ela trata muitas pessoas. O papel da arte é te acompanhar e não fazer o inverso”, comenta.

 

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Segundo Eliane Luchini, Blumenau tem 328 cegos sócios ao Centro Braille, destes, 38 são crianças. Ciente que este número pode ser bem maior, a brailista se entusiasma em saber que todos poderão prestigiar a mostra. “Os cegos vão poder tocar e sentir. É uma exposição realmente voltada para todas as deficiências, por que também foi trabalhada para os surdos, que terão as libras para acompanhar a mostra”, comemora.

Sendo apoiado por um Fundo Municipal, Antônio vê como uma obrigação trazer a inclusão na sua arte. “É dinheiro do imposto de todo mundo. Não é um mérito, é uma obrigação de quem trabalha com gente. Você tem que atender todo mundo”, avalia.

“Achei a proposta dele muito interessante, pois ele traz a acessibilidade de uma forma natural. Traz a acessibilidade de uma forma que seja inclusivo para todos ao mesmo tempo. Para que todos façam parte juntos, e não de forma separada”, salienta Luana Tillmann.

Para Antônio, a participação de públicos diferentes é importante para a discussão e para a transformação. “Se eu fizesse uma exposição incluindo todo tipo de cultura, celebrando todo o tipo de diversidade, mas o público fosse sempre o mesmo a ideia não teria continuidade”, conta. O artista plástico acrescenta que, se levar em conta a sua origem, ele mesmo se excluiria ao se dedicar a uma arte elitista. “Seria como escrever um livro, mas que seu pai e sua mãe não pudessem ler. Fazer uma música que seus irmãos não fossem ouvir. Que seus amigos não fossem ver o seu trabalho. Seria uma auto-exclusão, se eu fizesse uma arte exclusiva”, reflete.

O projeto “Música em Cores” é patrocinado pela Prefeitura Municipal de Blumenau e pela Fundação Cultural de Blumenau, por meio do Fundo Municipal de Apoio à Cultura. Acompanhe as notícias e as novidades pelo Facebook e Instagram.

 

EXPOSIÇÃO de arte inclusiva “Música em Cores”, de Antônio da Silva
De 3 de novembro até 7 de dezembro, de terça a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h
Centro Cultural da Vila Itoupava (Rua Dr. Pedro Zimmermann, 16.230, Vila Itoupava, Blumenau). Entrada franca.