Censo 2022 revela 391 etnias e 295 línguas indígenas faladas no Brasil

Levantamento do IBGE mostra aumento expressivo na diversidade étnica e linguística e aponta mudanças no perfil da população indígena.

Foto: Marcelo Camargo [Agência Brasil]

O Brasil é um país de muitas vozes — e o Censo 2022 do IBGE acaba de mostrar quantas são. Segundo os dados divulgados nesta sexta-feira (24/10/25), existem 391 etnias indígenas e 295 línguas faladas em todo o território nacional. É um avanço significativo em relação a 2010, quando haviam sido registradas 305 etnias e 274 línguas.

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Com a nova metodologia, o IBGE conseguiu captar melhor a diversidade cultural e linguística dos povos originários. Ao todo, 1.694.836 pessoas se autodeclararam indígenas, o que representa 0,83% da população brasileira, distribuídas em 4.833 municípios. O número quase dobrou em 12 anos — um crescimento de 88,82%, equivalente a 896.917 pessoas a mais.

Entre as etnias mais populosas, estão:

  • Tikuna: 74.061 pessoas
  • Kokama: 64.327
  • Makuxí: 53.446

E entre as línguas indígenas mais faladas:

  • Tikúna: 51.978 falantes
  • Guarani Kaiowá: 38.658
  • Guajajara: 29.212

A gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos do IBGE, Marta Antunes, explica que os dados serão fundamentais para políticas públicas mais específicas.

“Agora, a gente vai poder olhar para cada povo de forma individualizada e compreender onde ele se situa — se está em terra indígena, fora dela, em área urbana ou rural — permitindo que a adaptação étnica e cultural das políticas públicas leve em conta tanto a etnia quanto a localização”, afirma.

 

Indígenas acompanham show da cantora Dijuena Tikuna no Festival Psica 2024, em Belém | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Quem são e onde estão os povos indígenas

Do total de indígenas, 73,08% declararam pertencer a uma etnia, enquanto 1,43% disseram pertencer a duas. Outros 9,85% não declararam etnia, 13,05% afirmaram não saber, 1,60% tiveram declaração mal definida, e 0,98% não determinada.
Em comparação com 2010, caiu o número dos que não sabiam a qual etnia pertenciam (de 16,41% para 13,05%) e aumentou o dos que não declararam (de 6% para 9,85%).

O levantamento também traz uma mudança importante no perfil geográfico: a maioria dos indígenas agora vive em áreas urbanas (53,97%), invertendo o cenário de 2010, quando 63,78% viviam na zona rural.

As cidades com maior número de etnias são:

  • São Paulo (SP): 194
  • Manaus (AM): 186
  • Rio de Janeiro (RJ): 176
  • Brasília (DF): 167
  • Salvador (BA): 142

Entre os municípios fora das capitais, destacam-se Campinas (SP), com 96 etnias; Santarém (PA), com 87; e Iranduba (AM), com 77.

 

Lideranças indígenas Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul em protesto em Brasília pelo fim do massacre na TI Panambi | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Dentro das terras indígenas (TIs), o Censo identificou 335 etnias — número superior ao de 2010 (250). Fora delas, o número também cresceu: de 300 para 373 etnias.
O Amazonas é o estado com mais povos identificados dentro de TIs (95, contra 75 em 2010), seguido de Pará (88, antes 57), Mato Grosso (79, antes 64), Rondônia (69, antes 46) e Roraima (62, antes 28).

Entre as etnias mais populosas, a Tikúna tem 74.061 pessoas — 71,13% vivendo em terras indígenas.

A Kokama, segunda mais numerosa, tem 64.327 pessoas, mas apenas 12,89% vivem em TIs, enquanto 67,65% estão em áreas urbanas fora das terras e 19,47% em áreas rurais.
Já a Makuxí tem 53.446 integrantes, com 68,31% em TIs, e a Guarani Kaiowá, 50.034, com 70,46% vivendo dentro das terras indígenas.

As vozes e os idiomas do Brasil indígena

O IBGE também registrou um salto no número de línguas indígenas. Segundo o gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas, Fernando Damasco, o aumento se deve não apenas à nova metodologia, mas também ao trabalho de resgate linguístico conduzido pelos próprios povos e a processos migratórios recentes.

“Tem línguas que voltaram a ser faladas por causa do esforço das próprias comunidades, e outras que surgiram com a migração, como o caso do Warao, que veio da Venezuela e cresceu muito na última década”, explicou Damasco.

Das 295 línguas identificadas, 248 são faladas dentro de terras indígenas — eram 214 em 2010. No total, 474.856 pessoas com dois anos ou mais afirmaram falar uma língua indígena no domicílio, o que representa 29,19% da população indígena.

A maioria, 372.001 (78,34%), vive em TIs — o equivalente a 63,35% de todos os indígenas que moram nelas. Fora das terras, há 102.855 falantes, sendo 68.675 em áreas urbanas (8,36%) e 34.180 em áreas rurais (15,67%).

Entre as cidades com maior diversidade linguística estão Manaus, com 99 línguas; São Paulo, com 78; e Brasília, com 61. Fora das capitais, São Gabriel da Cachoeira (AM) lidera, com 68 línguas faladas, seguida de Altamira (PA), com 33, e Iranduba (AM), com 31.

O que mudou desde 2010

O IBGE explicou que a diferença nos números se deve também a ajustes técnicos:

  • 25 etnias foram desagregadas, passando a ser registradas separadamente;
  • 8 etnias antes agrupadas como “outras das Américas” agora aparecem individualmente;
  • 1 nova etnia foi criada para reunir duas que antes eram listadas de forma isolada;
  • 73 novos etnônimos foram adicionados ao Censo 2022.

Essas mudanças, junto com o diálogo direto com as lideranças indígenas sobre quais dados são mais relevantes, permitiram uma leitura mais próxima da realidade de cada povo.

Com informações de Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil


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