As vozes que fizeram diferença nos momentos mais difíceis de Blumenau

Foto: Cláudio Moraes
Foto: Soni Robinson Witte

 

Por Claus Jensen

Quem passou pelo Parque Ramiro Ruediger na manhã deste sábado (22//7/17), pode conhecer um pouco do trabalho do Clube de Radioamadores de Blumenau (CRB). Alguns integrantes estavam junto com a Defesa Civil, onde havia exposição de alguns equipamentos, na programação que faz parte do Julho Laranja. Nem todos conhecem a importância que eles tiveram nos momentos mais difíceis da cidade.

 

Foto: Soni Robinson Witte

 

A semente do Radioamadorismo foi lançada em Blumenau em 1934, com a instalação de uma estação operada por João Medeiros, fundador da Rádio Clube, a histórica PRC4, pioneira em Santa Catarina. Em 1972, 38 anos depois, foi oficialmente fundado o Clube de Radioamadores de Blumenau que irá completar 45 anos, e hoje conta com cerca de 47 sócios ativos.

Em todo município, existem cerca de 125 radioamadores cadastrados, segundo Cláudio Moraes (PP5-CL), de 55 anos, diretor financeiro da CRB, que estava na exposição e falou com OBlumenauense. As imagens foram registradas às 8h40min por Soni Robinson Witte, quando uma névoa pairava sobre o Parque Ramiro Ruediger.

 

Foto: Soni Robinson Witte

 

O CRB teve participação fundamental nas enchentes de 1983, 1984 e 2011; na catástrofe de 2008, ajudando com equipes no prédio da prefeitura e auxiliando a defesa civil. Moraes disse que o período mais marcante para os radioamadores foi em 1983, quando toda a comunicação na cidade caiu e havia um equipamento em cada abrigo, além da central na prefeitura. Em 1988, quando o helicóptero chegou na prefeitura, os radioamadores fizeram contato com o piloto e auxiliaram na aproximação e balizamento, para realizar o pouso. Sim, eles ajudaram também no controle aéreo.

Claudio explica que os radioamadores tem que respeitar suas faixas de operação de acordo com sua classe mas em uma situação de Extrema emergência onde a prioridade é salvaguardar vidas, somos autorizados a prover comunicação segura fora de nossas frequências habituais de operação, como foi o caso da ajuda as aeronaves em Blumenau. Outro momento marcante foi na Nova Rússia no ano passado.

 

Foto: Cláudio Moraes

 

Todos podem ser radioamadores, desde que passem pelos exames estabelecidos pelo governo federal com provas que englobam legislação, técnica e ética operacional, rádio eletricidade e telegrafia. Eles são classificados nas classes A, B e C; como iremos explicar depois.

Tem alguns radioamadores que só fazem telegrafia, outros nos modos digitais, e tem os focados na defesa civil que se preparam com cursos. O CRB mantém duas estações repetidoras em VHF 24 horas no ar. Uma de abrangência local, situada no Morro da Ponta Aguda (Portal da Saxônia) e outra situada no Morro do Cachorro. com abrangência regional, conectando desde Curitiba (PR) até Florianópolis e Rio do Sul.

 

Foto: Cláudio Moraes (dir.)

 

“Nós trabalhamos com um equipamento de baixa potência, que transmite para a repetidora, que retransmite o sinal com maior potência e abrangência. Temos condições de suprir a comunicação em qualquer situação de emergência, mesmo se faltar energia elétrica, sinal de celular ou telefone”, explica Moraes. Na estação do Morro do Cachorro, há uma construção de alvenaria que abriga repetidoras de sinal da Guarda Municipal, Samae, SAMU, Bombeiros e até o 23º Batalhão de Infantaria. O espaço físico e as antenas são disponibilizados gratuitamente para essas entidades.

 

 

Quando aconteceu o deslizamento no Rancho do Willy na região da Nova Rússia, segundo Cláudio, a única comunicação foi possível através da CRB. “Acompanhei a Defesa Civil, e fomos os primeiros a chegar no local às 22h. Foram os rádios da CRB que chamaram a Celesc, Bombeiros e Polícia Militar. O rádio da Defesa Civil não estava funcionando, porque é uma região geograficamente muito difícil, mas os nossos equipamentos portáteis funcionaram 100%. Quando cheguei, não tinha noção do que estava acontecendo, só ouvia o barulho do morro caindo”, lembra.

 

Foto: Soni Robinson Witte

 

Comparando os antigos rádios analógicos com os modernos digitais, Cláudio disse que houve evolução. “Estou com um portátil que dá a localização por GPS. Se eu entrar no mato, com meu rádio receptor e transmissor, a estação base vai saber exatamente onde estou em uma situação de resgate. O rádio digital, ou você escuta, ou não. Porque ele transmite por pacote de dados. Já o analógico, você escuta com chiado e baixo, como se escutasse um rádio longe”. No caso da Nova Rússia, somente foi possível estabelecer comunicação com o analógico. “Em algumas situações geográfica, de condições de terreno, um equipamento funciona melhor que outro. Mas no digital você pode transmitir imagens, dados de telemetria, documentos, como na internet”.

A sede do CRB fica localizada no Centro Cultural 25 de Julho, na Rua Alberto Koffke, 354, Centro. Os encontros acontecem a partir das 19h30min nas quintas-feiras. Mas será por pouco tempo, porque receberam um terreno em comodato da prefeitura, próximo da URB (Companhia Urbanizadora de Blumenau), no bairro Escola Agrícola. Nada mais justo, por todos serviços que prestaram e prestam ao Vale do Itajaí. No dia 27 de julho, às 19h, a Câmara de Vereadores irá entregar uma comenda à entidade, e no dia 2 de Setembro, terá uma Feijoada no 25 de Julho para comemorar os 45 anos.

 

Foto: Soni Robinson Witte

 

Para construir a sede, a entidade precisará da ajuda de toda comunidade para garantir os recursos. No local também terá o Museu do Rádio, onde estarão expostos rádios valvulados da década de 1970 e 1980 que não existem mais. São cerca de 50 equipamentos, que estarão disponíveis para visitação, principalmente às novas gerações que não fazem ideia dessa antiga tecnologia.

“Antigamente você era obrigado a montar os seus equipamentos. Em 1977 quando eu iniciei, não existia rádio para se comprar. Nós pegávamos os esquemas e tínhamos que conhecer um pouco de eletrônica para fazer o seu receptor e transmissor. Hoje, com a tecnologia, os rádios são menores, mais compactos e trabalham com menos voltagem. Nesse ponto a evolução foi muito positiva, mas tirou aquela fase do radioamador construir o seu próprio equipamento. Porque o radioamadorismo é muita pesquisa. O celular existe por causa do radioamador, resultado de projetos antigos que evoluíram. A diferença é que você pode comprar um rádio em qualquer camelô. Mas para operá-lo, é necessário ser licenciado pela Anatel, caso contrário a multa é grande. É um processo federal”, comenta Moraes.

 

Foto: Soni Robinson Witte

 

O radioamadorismo é dividido nas classes A, B e C. A porta de entrada é a C, quando qualquer pessoa, a partir dos 14 anos (com autorização dos pais), faz uma prova simples de legislação e ética operacional na Anatel em Florianópolis. Isso significa saber o que pode ou não falar, além dos códigos usados. Para operar em algumas faixa, é necessário avançar nas classes.

As apostilas são fornecidas pelo CRB e se passar na prova, já é considerado um radioamador. O custo anual da licença é de R$ 30. Para chegar na Classe B, é preciso conhecer radioeletricidade e telegrafia. Para entrar na Classe A, o nível mais alto, é preciso estudar as duas matérias anteriores em um nível mais avançado.

Existem outras limitações, como por exemplo, se quiser falar com a Europa, onde há uma faixa específica. Na Classe B, segundo Moraes, as comunicações são voltadas mais para os contatos dentro do Brasil. Os radioamadores se atualizam com cursos da RENER Rede Nacional de Emergência de Radioamadores, do MInistério da Integração Social.

Quem quiser obter mais informações sobre o Clube Radioamador de Blumenau, pode acessar o site www.crb.org.br.