José Alberto “Pepe” Mujica Cordano, ex-presidente do Uruguai, morreu nesta terça-feira (13/05/25), aos 89 anos. Ele estava em tratamento contra um câncer de esôfago e passou seus últimos dias em casa, no sítio onde vivia com a esposa, nas proximidades de Montevidéu. Reconhecido internacionalmente pelo estilo de vida simples e pelas posições firmes, Mujica marcou a política uruguaia e sul-americana ao longo das últimas décadas.
Mujica iniciou sua trajetória política nos anos 1960 como integrante do grupo Tupamaros, que atuava contra o regime autoritário no Uruguai. Chegou a ser preso quatro vezes e passou cerca de 14 anos encarcerado, muitos deles em regime de isolamento. Após a redemocratização, participou da fundação de um novo movimento político, foi eleito deputado, senador e, mais tarde, ocupou o cargo de presidente entre 2010 e 2015.
Durante seu mandato, implementou medidas nas áreas de saúde, habitação, educação e direitos civis. Algumas das legislações aprovadas em sua gestão geraram repercussão internacional, como a regulamentação da cannabis e o incentivo à inclusão social. Ao mesmo tempo, programas de transferência de renda e distribuição de computadores em escolas ganharam destaque entre as políticas públicas adotadas.
Ao longo da vida, Mujica recebeu atenção não apenas pelas ações de governo, mas pelo modo como escolheu viver: abriu mão de morar na residência oficial, dirigia um fusca antigo e doava parte do salário. Em entrevistas, reforçava que o essencial da política era servir à sociedade e manter coerência entre discurso e prática. “Me dediquei a mudar o mundo e não mudei nada, mas me diverti”, disse em uma de suas últimas declarações públicas, ao jornal El País.
Mesmo fora da Presidência, permaneceu atuante. Em 2019 foi eleito novamente senador, mas renunciou ao cargo no ano seguinte, durante a pandemia de covid-19. Também se manteve engajado em debates sobre o futuro da América Latina e a necessidade de cooperação entre os países da região. “Ou nos integramos, ou não somos nada”, costumava dizer.
Em 2024, poucos meses antes de sua morte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pessoalmente ao Uruguai para homenageá-lo com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a maior condecoração brasileira destinada a estrangeiros. O gesto reconheceu sua trajetória política e pessoal.
O partido político ao qual Mujica estava vinculado voltou à Presidência uruguaia com a eleição de Yamandú Orsi, em novembro de 2024. A posse está prevista para março de 2025. A despedida de Mujica encerra um capítulo importante da política do continente, marcado por uma figura que viveu intensamente os desafios e transformações do seu país.